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Como atentado pode transformar Trump em ‘santo’ ou ‘mártir’ para apoiadores

 

Os disparos feitos contra Donald Trump em um comício na Pensilvânia, no sábado (13/07), estão sendo investigados como uma tentativa de assassinato do ex-presidente e atual candidato presidencial republicano.

Tentativas de assassinato de presidentes e candidatos presidenciais são comuns na história americana. O que aconteceu na Pensilvânia é horrível, mas infelizmente não surpreendente.

Fiquei impressionado com quantas figuras políticas de alto escalão nos Estados Unidos se manifestaram após o tiroteio, dizendo que a violência política não tem lugar na América.

O presidente dos EUA, Joe Biden, afirmou que violência desse tipo é “inédita” no país.

Isso é bastante surpreendente. Os Estados Unidos foram fundados com base na violência política, e incidentes de violência política marcam toda a sua história.

Na verdade, Biden iniciou sua carreira política se apresentando como o herdeiro político dos irmãos Kennedy assassinados – o presidente John F. Kennedy, assassinado em 1963, e Robert F. Kennedy, assassinado em 1968.

No entanto, para que esse incidente ocorra neste momento, dada a natureza volátil da campanha presidencial até agora e as profundas divisões nos Estados Unidos, é profundamente preocupante.

A maneira como o tiroteio foi rapidamente explorado nas redes sociais – com teorias da conspiração surgindo em tempo real – aumenta muito o potencial para a escalada desse tipo de violência.

Basta olhar para a insurreição no Capitólio dos EUA em 6 de janeiro de 2021 para ver como a violência política pode explodir rapidamente nos Estados Unidos.

Isso se deve, pelo menos em parte, à forma como a retórica violenta foi deliberadamente cultivada por elementos da direita radical nos últimos anos. Em particular, subcorrentes de violência política têm fervido nos comícios de Trump desde o início de sua primeira campanha presidencial em 2016.

A ameaça de violência tornou-se central para a imagem política de Trump, para seu apelo e para sua base de apoiadores. Basta assistir a alguns momentos de cada comício e discurso de Trump para ouvi-lo falar sobre violência, muitas vezes em detalhes gráficos e com grande entusiasmo.

Por exemplo, ele repetidamente fez referência a teorias da conspiração ao descrever o ataque contra Paul Pelosi, marido da ex-presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi, em sua casa em 2022, além de zombar dele e fazer piadas sobre o ataque.

Isso é uma característica, não um defeito, da campanha de Trump e do movimento por trás dele.

E isso tem um impacto no mundo real. Uma revisão nacional conduzida pela ABC News em 2020 identificou 54 casos criminais em que o nome de Trump foi invocado em “conexão direta com atos violentos, ameaças de violência ou acusações de agressão”.

Há apenas algumas semanas, Kevin Roberts, presidente do think tank conservador Heritage Foundation (o arquiteto do plano Projeto 2025 para reformular o governo dos EUA sob uma segunda presidência de Trump), falou sobre uma “segunda Revolução Americana” que “permaneceria sem derramamento de sangue se a esquerda permitir”.

Dada a presença constante dessa ameaça de violência, é talvez mais surpreendente que um incidente dessa magnitude não aconteça com mais frequência, ou não tenha acontecido antes.

A imagem que define a campanha

É impressionante como Trump é um mestre na construção de imagens políticas.

Isso fica claro nas imagens do tiroteio na Pensilvânia: depois de se levantar, ele ergue o punho de forma desafiadora para que essa imagem seja registrada.

Essa imagem certamente vai definir esse momento, se não toda a campanha presidencial de Trump.

Houve uma série de pontos de virada nesta campanha até agora, e este pode muito bem ser o decisivo. Pode transformar Trump de mártir em santo aos olhos de seus apoiadores.

Observar como Trump, sua campanha e as pessoas ao seu redor utilizam essa narrativa será crucial, especialmente antes da Convenção Nacional Republicana, que está programada para começar em Wisconsin nos próximos dias.

Já é possível ver elementos da direita – particularmente entre os apoiadores de Trump – tentando usar a tentativa de assassinato para fomentar teorias da conspiração como um ponto de união para o ex-presidente.

Dada a repercussão do desempenho de Biden no debate nas últimas semanas, uma imagem contrastante dos dois candidatos também está surgindo e pode se solidificar ainda mais – mesmo que não os reflita com precisão.

Essa imagem de Trump, ensanguentado e com o punho erguido, certamente pode moldar toda a sua campanha e angariar apoio em torno dele.

É totalmente possível, portanto, que este seja o momento em que Trump conquista a eleição.

* Emma Shortis é Senior Fellow da School of Global, Urban and Social Studies, RMIT University

**Este artigo foi publicado no The Conversation e reproduzido aqui sob a licença Creative Commons. Clique aqui para ler a versão original em inglês.

bbcnews.com

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