A estrela-do-mar, por exemplo, começa sua vida como uma larva com simetria bilateral.
“Depois, na metamorfose, o adulto cresce de um lado, enquanto o outro lado desaparece.”
Uma vez adultas, essas estrelas com simetria pentarradial parecem feitas para adornar o fundo do mar, mas onde está a cabeça delas? “Esse é um assunto polêmico”, diz Rahman.
“Uma pesquisa recente indica que quase todo o animal é a cabeça, sem a extremidade posterior que vemos em outros animais. Assim, uma estrela-do-mar seria uma espécie de cabeça incorpórea rastejando sobre seus lábios.”
Apesar de seus corpos distintos, os equinodermos existem há centenas de milhões de anos. Por que sobreviveram em um mundo dominado por animais com simetria bilateral? Ninguém sabe ao certo.
E as plantas?
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Legenda da foto, Uma das aproximadamente 1.900 espécies de estrelas-do-mar que habitam o fundo dos oceanos em todo o mundo
Ser bilateral foi uma receita de sucesso para os animais, mas nas plantas o panorama é mais variado.
“Para entender por que as plantas não parecem simétricas, é preciso observar seu desenvolvimento”, afirma a botânica Sophie Nadeau, da Universidade Paris Saclay, na França.
“Nos animais, o plano corporal é definitivo: quando você é adulto, não cresce mais. As plantas são compostas por módulos (caule, folhas, flores). Basta empilhar esses módulos e obtém-se uma planta que pode crescer indefinidamente.”
Se uma planta crescesse em condições perfeitamente controladas, provavelmente seria bastante simétrica, acrescenta Nadeau.
Mas a verdade é que não crescem isoladamente; os ventos, a luz do sol e o espaço disponível influenciam seu crescimento.
“Às vezes, uma parte se desenvolve mais que a outra, resultando em uma arquitetura que não é perfeitamente regular.”
No entanto, mesmo que raramente sejam perfeitamente simétricas, as plantas exibem simetria em diversos aspectos: suas folhas, por exemplo, frequentemente têm simetria bilateral.
“Se olharmos para cada órgão, eles apresentam simetria. Os caules têm uma simetria radial quase perfeita. Se você cortar o tronco de uma árvore, ele apresentará simetria radial. Portanto, cada órgão é, na verdade, simétrico.”
Assim, é possível encontrar simetria nas plantas, dependendo de onde se olha… até mesmo internamente.
E isso é interessante, porque, se voltarmos aos animais, a situação é oposta. Apesar de nossa simetria externa, internamente as coisas são muito menos simétricas.
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Legenda da foto, As plantas se adaptam às condições em que crescem
Aqui e ali
“Existem muitas assimetrias fascinantes no corpo humano”, observa o professor Mike Levin, da Universidade Tufts, em Massachusetts, nos EUA.
“Algumas são anatômicas, como órgãos como o coração, o estômago e o fígado, que em indivíduos normais estão localizados apenas de um lado do corpo. Outras assimetrias, menos óbvias, ocorrem no cérebro, que é ligeiramente diferente de um lado para o outro. Também há assimetrias funcionais ou fisiológicas interessantes; por exemplo, certas doenças ocorrem com mais frequência de um lado do corpo, como o câncer de mama, que tende a ser mais comum em um lado.”
“Essas assimetrias ocultas revelam que as células realmente sabem que não são iguais.”
A razão para essa assimetria em nossos órgãos internos, com o fígado ou o baço de um lado e nossos intestinos enroscados para trás, pode ser simplesmente a forma mais eficiente de organizar tudo.
“Mas a forma incontestável como os embriões determinam de que lado do corpo devem ficar o coração, o intestino, etc., é uma questão fascinante”, comenta Levin.
A assimetria como quebra-cabeça
A assimetria é um enigma, pois é algo difícil de estabelecer para sistemas biológicos. É possível usar a gravidade para determinar a posição vertical, mas calcular esquerda e direita é muito mais complexo. Como as células fazem isso? Realmente não sabemos.
“Em que momento do desenvolvimento embrionário as células descobrem em que lado do corpo estão? Se você é uma bola de células, como sabe onde está sua linha média e quais os mecanismos que permitem distinguir a esquerda da direita?”
Essas são algumas das perguntas. Uma resposta pode estar relacionada ao modo como as moléculas das células se auto-organizam em espirais, criando uma assimetria que depois é amplificada durante o desenvolvimento. Mas, independentemente de como ocorre, segundo Levin, a assimetria pode ser fundamental para a vida.
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Legenda da foto, Por dentro, também somos organizados, mas de acordo com outras regras
“A assimetria permeia toda a biologia, desde eventos quânticos que quebram a simetria até o desenvolvimento, comportamento e até nossas obras de arte. É surpreendente como se conecta desde as sutis propriedades moleculares do mundo quântico até o impacto cultural e social.”
Embora a assimetria continue sendo um mistério, as razões para a simetria, pelo menos em humanos e em outros animais bilaterais, são claras.
É um formato muito vantajoso, como ressalta Frankie Dunn: “Os bilaterais estavam destinados a triunfar porque seu plano corporal é muito adequado para muitas atividades, como voar, nadar e caminhar, além de ser altamente suscetível à inovação.”
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