O ex-presidente Donald Trump, candidato republicano à presidência dos EUA, foi levado às pressas para um local seguro no domingo (15/9), após o que o FBI, a polícia federal americana, chamou de uma aparente tentativa de assassinato em seu campo de golfe em West Palm Beach, na Flórida.
O incidente aconteceu quase exatamente dois meses depois do atentado contra Trump durante um comício na Pensilvânia, quando um homem abriu fogo a partir de um prédio, ferindo o candidato republicano e matando um apoiador dele.
Ainda estão surgindo detalhes sobre o último incidente e sobre o suspeito, identificado pela imprensa americana como Ryan Routh.
A seguir, confira o que sabemos até agora.
O incidente aconteceu no Trump International Golf Club em West Palm Beach, a cerca de 15 minutos da residência de Trump na Flórida, Mar-a-Lago.
O atirador foi avistado pela primeira vez por agentes do Serviço Secreto, que estavam fazendo uma varredura no campo de golfe do ex-presidente enquanto ele jogava. Os agentes geralmente se posicionam um buraco à frente para realizar verificações de segurança, de acordo com a polícia.
O cano de um rifle — inicialmente descrito como um rifle do tipo AK-47 pelo xerife do condado, Ric Bradshaw — foi avistado saindo dos arbustos que margeiam o campo. Na ocasião, Trump estava a cerca de 270 a 560 metros de distância do atirador, segundo ele.
Ainda de acordo com Bradshaw, um agente “imediatamente confrontou” a pessoa que segurava o rifle, que fugiu.
“O Serviço Secreto fez exatamente o que deveria ter sido feito.”
Como o suspeito foi capturado?
Os agentes abriram fogo quando avistaram o atirador — e dispararam de quatro a cinco cartuchos de munição.
O suspeito largou o rifle e fugiu em um veículo, abandonando a arma junto a duas mochilas, uma mira e uma câmera GoPro, acrescentou o xerife Bradshaw.
De acordo com ele, uma testemunha viu o homem fugir dos arbustos para um Nissan preto. Ela tirou uma foto do carro e a forneceu à polícia.
O suspeito foi detido pela polícia dirigindo em direção ao norte pela rodovia I-95, depois de entrar no condado de Martin, a aproximadamente 61 quilômetros do campo de golfe de Trump.
Várias fontes policiais informaram à rede americana CBS News, parceira da BBC nos EUA, que o nome do suspeito é Ryan Wesley Routh.
Quem é Ryan Routh?
Detalhes sobre os antecedentes do suspeito estão vindo à tona aos poucos.
Ao falar com a imprensa americana, o filho de Routh, Oran, descreveu o pai como “amoroso e atencioso”.
“Não sei o que aconteceu na Flórida, e espero que tenham exagerado a situação, porque pelo pouco que ouvi, não parece que o homem que conheço faria uma loucura, muito menos algo violento”, disse Oran em declaração à rede CNN.
A BBC Verify encontrou perfis de rede social que correspondem a esse nome. Eles indicam que Routh pediu que combatentes estrangeiros fossem à Ucrânia para lutar contra as forças russas.
Há também mensagens em defesa dos palestinos, a favor de Taiwan e contra a China em seu perfil, incluindo alegações sobre uma “guerra biológica” chinesa, e referências ao vírus covid-19 como um “ataque”.
Routh, que não tinha experiência militar, disse ao jornal americano The New York Times, em 2023, que havia viajado para a Ucrânia logo após a invasão da Rússia, em 2022, para encontrar recrutas militares entre os soldados afegãos que haviam fugido do Talebã.
Ele parece ter se envolvido em iniciativas recentes de recrutamento, escrevendo no Facebook em julho deste ano: “Soldados, por favor, não me liguem. Ainda estamos tentando fazer a Ucrânia aceitar soldados afegãos, e esperamos ter uma resposta nos próximos meses… por favor, tenham paciência.”
As primeiras informações sugerem que ele tinha antecedentes criminais. De acordo com fontes da rede CBS, Ryan Routh foi acusado e condenado por vários crimes graves no condado de Guilford, na Carolina do Norte, entre 2002 e 2010.
Os crimes incluem porte oculto de arma, resistência à prisão, dirigir com carteira de habilitação suspensa, posse de propriedade roubada e atropelamento com veículo motorizado.
O que aconteceu com Trump?
Trump não ficou ferido durante a suposta tentativa de assassinato.
Logo após o incidente ser confirmado pela equipe da sua campanha, o republicano divulgou uma declaração para sua lista de arrecadação de fundos, que dizia: “Houve tiros na minha vizinhança, mas antes que os rumores comecem a sair do controle, eu queria que vocês ouvissem isto primeiro: ESTOU SEGURO E BEM”.
Trump deu seu relato ao apresentador da Fox News, Sean Hannity, que fez uma reconstituição do incidente no ar no domingo.
“Eles estavam no quinto buraco, estavam prestes a subir para dar a tacada”, contou Hannity.
O ex-presidente ouviu “pop pop, pop pop”, ele acrescentou. “Em segundos, o Serviço Secreto se lançou sobre o (ex-)presidente [e] o encobriu protegendo.”
O que vai acontecer agora?
Durante a mesma entrevista coletiva com o xerife, Jeffrey Veltri, do departamento do FBI em Miami, informou que a polícia federal americana estava liderando as investigações junto a outras autoridades policiais.
“Mobilizamos vários recursos, incluindo equipes de investigação, membros da equipe de resposta a crises, especialistas em bombas e membros da equipe de coleta de evidências”, afirmou Veltri, acrescentando que “todos os recursos do FBI”, além do Serviço Secreto dos EUA, do gabinete do xerife de Palm Beach e do gabinete do xerife do condado de Martin, foram mobilizados.
A Casa Branca disse que o presidente americano, Joe Biden, e a vice-presidente, Kamala Harris, candidata democrata à presidência, foram informados sobre o incidente — e ficaram aliviados em saber que ele estava seguro.
“Estou profundamente desconcertada com a possível tentativa de assassinato do ex-presidente Trump hoje”, afirmou Harris em comunicado.
Os líderes da força-tarefa bipartidária do Congresso criada para investigar a tentativa de assassinato de 13 de julho na Pensilvânia disseram que estavam gratos pelo fato de o ex-presidente não ter sido ferido, “mas continuam profundamente preocupados com a violência política, e a condenam em todas as suas formas”.
O congressista republicano Mike Kelly e o democrata Jason Crow disseram que a força-tarefa solicitou uma reunião com o Serviço Secreto para entender “o que aconteceu, e como a segurança reagiu”.
Rafael Barros, do Serviço Secreto, disse a jornalistas no domingo que foram tomadas medidas desde a tentativa de assassinato anterior — e “o nível de ameaça é alto”.