Observadores independentes descreveram a eleição como a mais arbitrária dos últimos anos, mesmo pelos padrões do regime autoritário iniciado por Hugo Chávez, mentor e antecessor de Maduro.
O candidato da oposição, Edmundo González, afirmou em suas primeiras declarações: “Os venezuelanos e o mundo inteiro sabem o que aconteceu.”
María Corina Machado, líder da oposição, disse que a margem de vitória de González foi “arrasadora”, com base nas apurações recebidas de representantes de campanha em cerca de 40% das urnas em todo o país.
“Ganhamos em todos os Estados do país e sabemos o que aconteceu hoje. Cem por cento das atas que o CNE transmitiu nós temos e toda essa informação aponta que Edmundo obteve 70% dos votos”, disse Machado a jornalistas.
Quando Maduro apareceu para celebrar os resultados, ele acusou inimigos estrangeiros não identificados de tentar hackear o sistema de votação.
“Esta não é a primeira vez que tentam violar a paz da república”, disse ele a algumas centenas de apoiadores no palácio presidencial. Maduro não apresentou evidências para sustentar a acusação, mas prometeu “justiça” para aqueles que tentarem incitar violência na Venezuela.
Líderes internacionais, como o presidente chileno Gabriel Boric, expressaram preocupação com a legitimidade dos resultados.
Até a publicação desta reportagem, os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, do Brasil, e Gustavo Petro, da Colômbia, aliados de Maduro, não haviam se manifestado diretamente sobre o resultado.
O Itamaraty afirmou que o governo brasileiro aguarda “a publicação pelo Conselho Nacional Eleitoral de dados desagregados por mesa de votação, passo indispensável para a transparência, credibilidade e legitimidade do resultado do pleito”.
A nota publicada nesta segunda-feira diz que o governo brasileiro “saúda o caráter pacífico da jornada eleitoral de ontem na Venezuela e acompanha com atenção o processo de apuração”, além de reafirmar “o princípio fundamental da soberania popular, a ser observado por meio da verificação imparcial dos resultados”.
Boric declarou no X (antigo Twitter): “O regime de Maduro deve entender que esses resultados são difíceis de acreditar. A comunidade internacional e, sobretudo, o povo venezuelano, incluindo os milhões de venezuelanos no exílio, exigimos total transparência das atas do processo e que observadores internacionais não comprometidos com o governo atestem a veracidade dos resultados.”
O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, compartilhou a preocupação de Boric, afirmando que seu país tem “sérias preocupações” com o resultado anunciado.
“É fundamental que todos os votos sejam contados de forma justa e transparente, que as autoridades eleitorais compartilhem imediatamente informações com a oposição e observadores independentes. A comunidade internacional está observando isso de perto e responderá de acordo”, disse Blinken.
Josep Borrell, chefe de política externa da União Europeia, afirmou: “O povo da Venezuela votou sobre o futuro de seu país de forma pacífica e em grandes números. A sua vontade deve ser respeitada. Garantir transparência completa no processo eleitoral, incluindo na contagem de votos e acesso aos registros de voto nas zonas de votação, é vital.”
Em nota divulgada antes dos resultados, o assessor para Assuntos Internacionais do Palácio do Planalto, ex-chanceler Celso Amorim, disse esperar que o resultado das eleições na Venezuela seja respeitado por “todos os candidatos”.
Amorim também informou que o presidente Lula estava sendo atualizado sobre a votação.
“Estou em contato com diferentes forças políticas e analistas eleitorais, além de membros da equipe de observadores do Centro Carter e do Painel de Especialistas da ONU. O presidente Lula vem sendo informado ao longo do dia. Vamos aguardar os resultados finais e esperamos que sejam respeitados por todos os candidatos.”
Amorim, que está na Venezuela como observador das eleições, destacou a participação expressiva do eleitorado e afirmou que o processo de votação havia sido “tranquilo e sem incidentes significativos”. “É motivo de satisfação que a jornada tenha transcorrido com tranquilidade, sem incidentes de monta.”
Mas aliados parabenizaram Maduro pela vitória nas redes sociais.
Luis Alberto Arce, presidente da Bolívia, celebrou a “festa democrática” e o respeito à “vontade do povo nas urnas”.
Xiomara Castro de Zelaya, presidente de Honduras, ressaltou a reafirmação da “soberania” e do “legado histórico do Comandante Chávez”.
Miguel Díaz-Canel, presidente de Cuba, destacou a derrota da oposição “pró-imperialismo” e da “direita regional, intervencionista e monroísta (relativo à doutrina Monroe, que prega ação americana na América Latina).” Segundo ele, “a dignidade e a coragem do povo venezuelano triunfaram sobre pressões e manipulações”.
Já o presidente Vladimir Putin, da Rússia, destacou a importância da “parceria estratégica” entre os dois países e acrescentou que Maduro sempre será “um convidado bem-vindo em solo russo.”
‘Busca por solução diplomática’
Horas após o resultado, ele diz que é “cedo demais” para fazer previsões e que ainda há “um longo caminho a percorrer”.
Feierstein, que questiona o resultado anunciado, diz que “teria sido melhor para Maduro negociar uma transição e obter as garantias que acha necessárias”.
Ele prevê que o regime enfrentará uma pressão “maior do que antes” e que Maduro está “mais isolado do que nunca”.
“Há uma rejeição maior ao regime dentro da Venezuela do que nunca antes. E a fraude flagrante e a recusa em aceitar o resultado expuseram o regime. Não há nenhum governo que possa seriamente argumentar que Maduro é legítimo. Portanto, acredito que o regime estará mais isolado do que nunca.”
Na opinião do especialista, o caminho que Maduro está seguindo é provavelmente mais perigoso, pois “não há como prever como isso vai terminar”.
Ele acrescenta que agora a atenção está voltada para saber se será necessário fazer algum esforço para “alcançar uma solução diplomática que reflita a vontade do povo.”
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