“Cores claras ampliam os espaços, o amarelo energiza e assim por diante.”
Podemos encontrar muitas sugestões deste tipo na internet ou em revistas de arquitetura ou de decoração. Mas o fundamental, segundo García, é se perguntar: Do que eu gosto? O que faz com que eu me sinta bem?
“Eu gosto de dizer aos meus clientes que uma coisa é a teoria e o que dizem os escritos – que o branco faz com que um espaço pareça maior, por exemplo”, explica ela. “Mas, em última análise, somos indivíduos e temos nossas experiências.”
“Em El Salvador, por exemplo, saem as procissões na Semana Santa. E, na procissão da Sexta-Feira Santa, todos saem de roxo.”
“Para mim, o roxo, desde pequena, era muito forte e é algo que associo à morte de Jesus. Mas existem pessoas que adoram roxo e a cor as deixa felizes”, afirma García.
“Não é questão de seguir tendências, mas de estar em harmonia com o seu ser e saber o que faz você se sentir bem ou não.”
Podemos morar na mesma casa com outras pessoas, mas cada um de nós passou por experiências diferentes, acrescenta ela. “Para mim, o trabalho mais importante como designer é entender do que o meu cliente gosta e do que ele não gosta.”
“Mesmo que ele me diga uma coisa – porque, às vezes, as pessoas dizem algo só porque parece ser o que elas deveriam dizer – mas, na verdade, não é daquilo que elas realmente gostam.”
2. Maximizar a luz natural
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Legenda da foto, A luz natural favorece o nosso ritmo circadiano
“Pessoalmente, a luz é o fator número 1, pois é a origem da vida”, segundo García.
A luz natural favorece os nossos ritmos circadianos, que regulam nosso ciclo de sono e vigília, além dos hormônios. E, se houver diversos espaços pequenos em uma moradia, García considera muitas vezes a possibilidade de derrubar paredes.
Uma alternativa é trocar janelas. Mas, se nada disso for possível, “você pode permitir a entrada de mais luz de outras formas – usando espelhos ou elementos que reflitam a luz, por exemplo”.
“Existem também os acabamentos de pinturas, já que a mesma cor pode ser opaca, acetinada ou brilhante”, explica ela. “E isso também ajuda a refletir a luz de um objeto para outro e a manter a luz no seu entorno.”
Outra opção, segundo a arquiteta, é simplesmente aceitar que um espaço seja mais escuro e dar a ele outro uso.
“Se você for uma pessoa muito ativa, que precisa de luz para fazer as coisas, mas quer se sentir protegida e acalentada à noite, você pode se retirar para um espaço um pouco mais escuro que ofereça esta sensação de proteção”, indica ela.
“Um espaço escuro não precisa necessariamente ser negativo. Ele pode também ser algo positivo, dependendo do seu uso.”
3. Trazer a natureza para casa
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Legenda da foto, ‘Fomos programados evolutivamente para reagir à natureza’
O termo “biofilia” significa, literalmente, amor à vida. Ele é usado para descrever nossa conexão inata com a natureza.
Reconhecer esta tendência ancestral na nossa casa é tão importante que gerou o que é chamado de design biofílico.
“Trata-se de incorporar a natureza em todas as suas formas (incluindo padrões, materiais, formas, espaços, odores, imagens e sons) ao projeto urbano em diferentes escalas”, explicou à BBC Worklife a pesquisadora de urbanismo australiana Jana Söderlund, autora do livro The Emergence of Biophilic Design (“O surgimento do design biofílico”, em tradução livre).
“Grande parte disso é senso comum, pois fomos programados evolutivamente para reagir à natureza”, acrescenta. “Às vezes, precisamos apenas de um lembrete.”
Não se trata apenas de ter uma planta na sala. É possível também acrescentar uma “experiência indireta com a natureza” com tons de terra, que podem ter efeitos positivos, tanto psicológicos quanto fisiológicos.
Söderlund recomenda testar verde-floresta, azul-celeste ou tons de marrom, cor de terra. “Olhe pela janela e imagine como você pode levar essas cores para o lado interno”, orienta ela.
García acrescenta que, se morarmos em países com clima extremo ou não tivermos “boa mão” para as plantas, “é preferível ter uma planta, mesmo que seja artificial, a não ter nenhuma”.
4. Escolher materiais naturais
Crédito, Orsetto Interiors
Legenda da foto, ‘As fibras naturais podem servir para suas almofadas, poltronas ou colchas’
“Os materiais naturais são aqueles com que normalmente mais nos identificamos”, segundo García. “Porque também temos deles uma memória histórica, quando os seres humanos caçavam e moravam em edificações simples.”
“Este contato com o adobe, com a madeira, com a palha, com todo este tipo de materiais que conectam você à natureza é algo intrínseco no subconsciente humano.”
A arquiteta relembra que, na década de 1980, houve uma tendência a rejeitar o que é natural e preferir o moderno e o metálico
.
“Mas, agora, estamos retornando ao natural. Se você pegar um material natural como a madeira em vez de um material metálico, seu ritmo cardíaco se altera.”
Um estudo da Universidade da Colúmbia Britânica, no Canadá, e um teste clínico da Universidade Brown, nos Estados Unidos, demonstraram que a presença visual de elementos de madeira pode reduzir o estresse com mais eficácia do que as plantas. Já as moradias com cerca de 45% das superfícies de madeira aumentam a percepção de comodidade e reduzem a pressão arterial.
Crédito, Orsetto Interiors
Legenda da foto, ‘Se você pegar um material natural como a madeira em vez de um material metálico, seu ritmo cardíaco se altera.’
Outro estudo solicitou aos participantes que tocassem em superfícies de aço inoxidável, cerâmica, mármore e em um painel de carvalho. Os resultados demonstraram que tocar o painel de madeira apresenta efeito calmante sobre o sistema nervoso.
García relembra que “existem tecidos naturais, como a lã e o linho”.
“As fibras naturais podem servir para suas almofadas, poltronas ou colchas, se fizer frio. Estes materiais naturais são diferentes ao tato.”
“Agora, a tecnologia melhorou e, às vezes, é difícil diferenciar à primeira vista se um material é natural ou uma imitação artificial”, explica ela. “Mas, inconscientemente, o ser humano sabe. Você pode não perceber, mas se sentar ou tocar em algo natural muda o seu humor.”
5. Facilitar a circulação do ar
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Legenda da foto, ‘A energia precisa ser renovada e tem que circular, para trazer mais energia positiva.’
Quando García transforma espaços muito pequenos derrubando paredes, isso gera “a ilusão de que, visualmente, o espaço termina mais longe. Mesmo tendo a mesma área, você se sente diferente.”
Isso também permite o que García chama de “ventilação cruzada”.
“Em espaços pequenos, o mais comum é que cada quarto tenha só uma janela”, explica ela. “Mesmo que você a deixe aberta e entre um pouco de ar, o vento não se canaliza, não tem por onde sair.”
“Mas, se você abrir a porta para outro quarto, que tenha outra janela, pode haver troca de ar. Você tem acesso não só à iluminação dos dois lados, mas pode também ventilar o ar. Isso se chama ventilação cruzada.”
“Somos compostos de água, mas também de energia”, afirma García. “A energia precisa ser renovada e tem que circular, para trazer mais energia positiva. Senão, fica estancada.”
6. Não sobrecarregar
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Legenda da foto, Deixar alguns espaços vazios proporciona um respiro visual
É importante não superlotar um espaço com móveis e outros objetos, principalmente se ele for pequeno.
“A energia, a luz, tudo se move através do espaço e, se ele estiver sobrecarregado, a energia não flui ou os objetos não são iluminados porque há coisas demais.”
Deixar alguns espaços vazios proporciona um respiro visual, um alívio mental.
García volta a insistir na ideia de nos concentrarmos naquilo que nos agrada, como ter muitas fotos de pessoas queridas, mas é preciso buscar o equilíbrio.
“Trata-se de um equilíbrio entre o que deixa você feliz e um ambiente pesado, onde você já não se sente cômodo porque não há onde colocar um copo, ou você não consegue ver o outro lado do quarto”, explica ela.
Sem este equilíbrio, existe o risco de irmos para o outro extremo e nos sentirmos igualmente incômodos ou estressados.
“Você pode acabar optando por algo muito clínico ou estéril, onde tudo é muito branco e minimalista, e sentir que é ‘melhor não tocar em nada’ ou ‘se eu mover algo, irá ficar fora de lugar'”, ressalta ela.
“Todas as tendências são válidas, mas é preciso não levá-las ao extremo.”
7. Manter a organização
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Legenda da foto, ‘Tente não ter muitas coisas na bancada. Se você observar sempre essa desordem, isso inconscientemente irá gerar ansiedade.’
García destaca que a organização é fundamental, especialmente na cozinha.
“Tente não ter muitas coisas na bancada”, orienta ela. “Embora você não seja uma pessoa meticulosamente organizada, observar sempre essa desordem irá inconscientemente gerar ansiedade.”
A especialista afirma que este pequeno gesto – ter o mínimo sobre a bancada – pode chegar a melhorar o nosso humor.
“Se você tiver coisas que não usou em um ano, o mais provável é que não irá ocupá-las”, orienta ela. “Então, é melhor se desfazer delas e dar-lhes uma nova vida, ajudando pessoas que não as têm.”
8. Considere a verticalidade
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Legenda da foto, Uma forma de fazer uso da verticalidade é pendurar quadros em diferentes níveis de altura
Em espaços muito pequenos, é possível instalar prateleiras altas, mas você também pode usar a verticalidade de outras formas.
Em casas com tetos altos, García propõe pendurar lâmpadas ou objetos de arte no espaço superior, ou em alturas diferentes, para que não fiquem todos no mesmo nível.
“Com isso, você faz sua visão se elevar, deixando de se mover em um único plano”, explica a arquiteta.
No caso de banheiros pequenos, García aconselha especialmente a pintar o teto de outra cor. “É uma ação que não irá ameaçar muito a sua vida cotidiana e traz um pouco de humor.”
“Pode ser um tom vivo, se você quiser olhar enquanto toma banho de manhã, ou uma cor serena, para ter paz na hora de dormir. Isso depende de cada personalidade.”
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Legenda da foto, Em banheiros pequenos, Alessandra García recomenda pintar o teto de cor diferente
9. Usar móveis multifuncionais
Crédito, Orsetto Interiors
Legenda da foto, ‘A flexibilidade é o mais importante, especialmente em espaços pequenos’
Em espaços reduzidos, é útil ter móveis que tenham mais de uma função, segundo García.
“A flexibilidade é o mais importante. A mesma cadeira pode servir para alguém se sentar, para manter seus livros, como mesinha de luz ou banquinho para alcançar alguma coisa”, recomenda a arquiteta.
“Se você mora em um espaço pequeno e a sua sala for também seu refeitório, escritório e sala de jogos para as crianças, faça com que, no final do dia, elas tenham um lugar para guardar os brinquedos”, como caixas decorativas.
“Assim, quando você sentir que o dia terminou, não haverá desordem para causar estresse.”
García também aconselha, se o seu escritório ficar na sala, a guardar o laptop no final do dia e, se chegarem visitas, usar o mesmo móvel para servir comida.
“O importante é que, enquanto você estiver ocupando um espaço para uma determinada atividade, tudo sirva para aquilo, mas que você depois possa ocupar o mesmo espaço com outra finalidade.”
10. Caminhar pouco a pouco…
Crédito, Alessandra García
Legenda da foto, Alessandra García: ‘Comece por algo pequeno… e não tenha medo de errar.’
Se, ao ler estas sugestões, você sentir que gostaria de segui-las, mas não sabe por onde começar, respire profundamente… e sorria.
García relembra que seus conselhos são uma forma de nos empoderar, sem nos deixar esgotados.
“Comece com algo pequeno, com uma almofada que você viu em uma loja e se encantou, e depois você pode seguir progressivamente”, indica ela. “Você não precisa fazer uma mudança da noite para o dia. Pode ser um processo de longo prazo.”
“E não tenha medo de errar. Se um dia você tiver vontade de pintar a parede de verde, pinte. O pior que pode acontecer é que, amanhã, você volte a pintá-la de outra cor.”
“Pense, sobretudo, em uma paleta de cores que deixe você feliz”, orienta a arquiteta. “E lembre-se de que aquilo de que você gosta hoje não será necessariamente o que irá agradar você amanhã.”
bbcnews