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O professor pedófilo que pode ter abusado de alunas por 40 anos

 

Um diretor de escola pedófilo pode ter abusado de alunas por mais de 40 anos — e ter feito quatro vezes mais vítimas do que se pensava inicialmente.

Neil Foden foi condenado a 17 anos de prisão por abusar sexualmente de quatro meninas no norte do País de Gales entre 2019 e 2023.

Mas uma investigação da BBC Wales ouviu denúncias que remontam a 1979, e de duas mulheres que afirmam terem sido informadas pela polícia que havia até 20 vítimas em potencial.

Foram levantadas sérias preocupações em relação a uma revisão destinada a “aprender lições” com o caso de Foden, apesar de a subprefeitura local, Cyngor Gwynedd, ter prometido que o painel de supervisão receberia “todas as informações necessárias”.

Uma ex-aluna, Jo (nome fictício), disse que Foden continuou enviando mensagens para ela até o dia em que foi preso.

Aviso: Esta reportagem contém detalhes e imagens que podem ser perturbadores para alguns leitores.

Ela contou que foi aliciada pelo diretor da escola por cinco anos, desde que o encontrava diariamente em seu escritório quando era aluna da Ysgol Friars, em Bangor.

Foden também enviaria mensagens para ela da sua conta de e-mail e telefone celular pessoal.

“Há aproximadamente 400, 500 [mensagens] no e-mail pessoal dele para minha conta de e-mail pessoal”, ela disse.

“Era um vai e vem todos os dias, dentro e fora da escola, de manhã, à noite, a qualquer hora.”

“Ele me fazia sentir especial.”

Foden enviou mensagens para Jo* enquanto ela era aluna, o que continuou depois que ela deixou a escola, até o dia de sua prisão.
Legenda da foto,Neil Foden foi preso depois que várias crianças foram à polícia
Jo (nome fictício) fotografada de costas para a câmera.
Legenda da foto,Jo se mudou do norte do País de Gales — e diz que só percebeu que havia sido aliciada por Foden quando ele foi preso em 2023

Jo estava no sistema de acolhimento de assistência social, sendo conhecida por ser uma criança vulnerável, e disse que foi alvo de Foden.

“Minha saúde mental estava no nível mais baixo, eu cometia automutilação… tinha ataques de pânico diariamente. Não tinha ninguém por perto, nenhum sistema de apoio”, ela contou.

“Ele me abraçava, e eu nem sempre queria, então eu recuava, e ele me puxava com mais força… sem motivo, suas mãos entravam debaixo do meu suéter.”

“Ele verificava com frequência meus braços e pernas para ver se eu havia me automutilado. Muitas vezes, eu usava saia, então ele levantava a saia para dar uma olhada.”

Foto de Neil Foden na polícia.

Crédito,North Wales Police

Legenda da foto,Neil Foden foi condenado a 17 anos de prisão em julho de 2024

Jo contou que outros professores e funcionários da escola a viam entrando sozinha no carro de Foden.

“Eles faziam comentários sobre a sorte que eu tinha por ele me levar para casa ou para os compromissos.”

“Ele colocava a mão na minha coxa… havia tanta coisa que não deveria ter acontecido”, acrescentou.

Jo tomou conhecimento da dimensão dos abusos de Foden após a prisão dele na escola em setembro de 2023.

“A polícia veio até mim… eles disseram que havia mais de 20 pessoas que estavam em situação semelhante à minha.”

Durante o julgamento de Foden, veio à tona que haviam sido levantadas preocupações em relação à proximidade dele com certas adolescentes em 2019.

A preocupação foi repassada ao Cyngor Gwynedd, mas foi decidido que não haveria uma investigação formal, uma vez que não haviam sido feitas acusações específicas.

O ex-diretor Neil Foden fotografado na década de 1980.

Crédito,Buchanan & Co Limited

Legenda da foto,Uma vítima disse à BBC que foi abusada por Neil Foden em 1979

‘Vem acontecendo há décadas’

Nia (nome fictício) foi uma das primeiras alunas de Foden na Ysgol Dyffryn Ogwen, em Bethesda, em 1979. Ela disse que Foden praticava os abusos quando os dois estavam sozinhos na sala de aula.

“Ele vinha até minha mesa, ficava atrás de mim… normalmente, seu braço direito roçava no meu peito, e eu sentia que não conseguia me mexer”, ela contou.

“Aos 13 anos, eu não sabia exatamente o que estava acontecendo. Ficava petrificada com ele, era vulnerável e ingênua naquela idade, e ele sabia disso.”

Nia (à esquerda) de costas, sentada de frente para a jornalista Elen Wyn.
Legenda da foto,Nia (à esquerda) disse à jornalista Elen Wyn, do programa BBC Wales Investigates, que Foden abusou dela por dois anos, quando não havia mais ninguém na sala de aula

Nia não denunciou Foden na época porque achava que ninguém acreditaria nela, mas falou com a polícia após a prisão dele em 2023.

“Esse abuso vem acontecendo há décadas… você não acorda de repente em 2019 e decide se tornar um pedófilo”, ela afirmou.

Nia contou que o que aconteceu com ela teve um impacto duradouro.

“Quanto mais velha fico, mais reconheço o que está acontecendo comigo nos relacionamentos, com os parceiros. Nunca consigo confiar em ninguém… é algo para a vida toda.”

Neil Foden sendo levado da van da prisão para o tribunal.

Crédito,AP

Legenda da foto,Foden negou ter cometido qualquer crime no julgamento, mas o juiz disse que ele estava vivendo uma mentira — e ele foi condenado a 17 anos de prisão

A autoridade local, o Cyngor Gwynedd, afirmou que uma revisão independente iria “identificar que lições devem ser aprendidas” para evitar casos semelhantes no futuro.

Mas Jo e Nia dizem que não foram contatadas por ninguém envolvido na revisão.

“Definitivamente, eles precisam fazer algo mais forte, responsabilizar todos os envolvidos”, disse Jo ao programa BBC Wales Investigates.

“Não basta apenas dizer que eles precisam fazer melhor, eles precisam ser forçados a fazer melhor.”

Um conselho de revisão de práticas relacionadas a crianças disse estar “plenamente ciente de que pode haver muitas outras vítimas ou sobreviventes” — e gostaria de ouvi-los.

Kathryn Yates.

Katherine Yates, uma advogada que representa várias pessoas que afirmam ter sofrido por causa de Foden, está entrando com uma ação judicial contra o Cyngor Gwynedd em nome delas.

“Há um misto de abuso sexual, abuso físico e abuso emocional grave”, ela disse.

“A primeira cliente está agora na faixa dos 50 anos, a mais nova tem 14… a administração local é indiretamente responsável pelas ações dos seus funcionários.”

“As ações dele tiveram impacto em muitas vidas, de crianças, das suas famílias, de funcionários… Acho que ele poderia e deveria ter sido detido muito antes.”

Enquanto Foden abusava de meninas em 2019, a atenção do Cyngor Gwynedd estava voltada para as acusações de bullying feitas por funcionários contra ele.

O programa BBC Wales Investigates teve acesso a uma cópia de um relatório confidencial que levantava preocupações sobre o comportamento dele, alertando que medidas deveriam ser tomadas.

Foden foi então repreendido pelo órgão regulador do ensino e expulso de seu sindicato em 2020.

No entanto, um ano depois, em 2021, ele recebeu mais responsabilidades ao ser nomeado “diretor estratégico”, supervisionando duas escolas diferentes no norte do País de Gales.

Uma integrante da equipe, Rose (nome fictício), contou que abordou Foden em seu escritório, em dezembro de 2022, para falar sobre um problema pessoal.

“Expliquei a situação a ele… e, depois, ele fez uma pergunta muito estranha sobre sexo, o que me deixou um pouco confusa”, ela disse.

“Seu patrão normalmente não perguntaria sobre sexo. Não é uma coisa normal, né?”

Ela afirmou que, na sequência, ele a abraçou, o que “evoluiu para agressão sexual”.

“Basicamente… ele simplesmente colocou a mão na minha calça”, ela disse.

Rose contou que não denunciou Foden na época, embora tenha falado com a polícia após a prisão dele, o que o levou a ser acusado, mas o caso não foi a julgamento.

A BBC Wales solicitou várias vezes uma entrevista ao Cyngor Gwynedd, mas a subprefeitura recusou.

Em declaração, afirmou que “não vai deixar pedra sobre pedra” para garantir que a revisão das práticas em relação às crianças receba “todas as informações relevantes do conselho sobre todas as preocupações levantadas”.

“Não seria apropriado que o Cyngor Gwynedd comentasse este assunto específico até que o painel concluísse seu trabalho”, acrescentou um porta-voz.

* Os nomes foram alterados para proteger a identidade das mulheres envolvidas.

bbcnews

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