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Eleições mostram direita dividida em SC e dão sinais para corrida pelo governo em 2026

Os resultados das eleições municipais de 2024 apontam para duas conclusões sobre a direita em Santa Catarina. A primeira delas foi o crescimento. O PL, partido do governador Jorginho Mello e do ex-presidente Jair Bolsonaro, conquistou 90 prefeituras, desbancou o MDB e se tornou a legenda com o maior número de prefeituras no Estado.

Mas essa tendência não se restringiu à principal legenda do bolsonarismo. O PSD fez 41 prefeituras, quarto maior número do Estado, mantendo praticamente o mesmo tamanho de 2020. A legenda também comemorou resultados expressivos como vitórias em Florianópolis e em disputas acirradas com o PL em Balneário Camboriú e Criciúma. Além disso, um dos principais líderes do partido, João Rodrigues, foi reeleito com 83% dos votos válidos em Chapecó.

O fortalecimento das duas legendas leva ao segundo resultado prático das eleições municipais no Estado: a divisão no campo da direita. Com as demonstrações de força dadas nas urnas, PL e PSD se credenciam como partidos prontos para liderarem projetos para o governo do Estado em 2026. E para esse jogo muitas cartas já estão na mesa.

O cenário para 2026

No PL, por exemplo, o projeto é a reeleição do governador Jorginho Mello. Ele chegou a se licenciar do governo para mergulhar de cabeça na reta final da campanha em alguns municípios. Saiu fortalecido com o número total de prefeituras do partido e com o desempenho em algumas regiões como o Vale do Itajaí, onde elegeu quase metade das prefeituras (23 dos 54 municípios).

No lado do PSD, se havia alguma dúvida de que o partido poderia se organizar para liderar uma candidatura ao governo do Estado, o resultado das urnas tratou de clarear o cenário. A legenda teve vitórias em cidades-chave de quase todas as regiões: Chapecó, Florianópolis, Criciúma, Balneário Camboriú e Joinville — onde o partido estava coligado com o prefeito reeleito Adriano Silva (Novo).

O prefeito João Rodrigues não esconde o interesse de concorrer a governador e confirmou o desejo no mesmo dia da vitória. A reeleição com 83% o credencia ainda mais para a corrida pelo cargo. Mesmo disputando a reeleição, Rodrigues também mergulhou em campanhas de outras cidades apoiando nomes do PSD e estadualizando ainda mais o nome — ele estima que tenha feito 70% da campanha fora da sua cidade. Nos dias seguintes à vitória em Chapecó, reafirmou a possibilidade de concorrer ao governo.

— A população de Chapecó sabe que eu tenho uma possibilidade grande de sair no meio do mandato. Mas é claro, eu sairia para disputar uma chapa majoritária. Desde que seja um projeto viável, que tenha sentimento de povo, vontade popular. E numa boa conversa. Vamos conversar, claro, com o próprio governador Jorginho Mello, mas o PSD tem um projeto majoritário. O meu nome está à disposição, sim — afirmou, em entrevista esta semana à CBN Floripa.

Ele não descarta uma ida ao Senado, mas deixa claro que “não é o projeto do PSD neste momento”, sobretudo depois dos resultados alcançados em 2024. No Brasil, foi o PSD quem desbancou o MDB e se tornou o partido com o maior número de prefeituras.

Prefeito de Chapecó cita ‘discurso agressivo’

As campanhas acirradas que tiveram PL e PSD de lados opostos em importantes prefeituras catarinenses reforçam ainda mais a divisão entre os partidos. Uma cisão que pode ser difícil de superar nos dois anos até o próximo processo eleitoral.

Rodrigues também dá recados ao PL, defendendo que há espaço para bolsonaristas também em outros partidos. O prefeito de Chapecó citou um “discurso muito agressivo” de segmentos do PL contra o PSD — nomes como o deputado federal bolsonarista Nikolas Ferreira (PL), que esteve em cidades de Santa Catarina, subiram o tom nas críticas ao PSD, associando o partido à gestão Lula.

 

— Sou um simpatizante do presidente Bolsonaro, mas quero compartilhar com Pablo Marçal: a direita não tem dono. Eu sou um homem de direita não é de hoje. Acho que o PL em alguns momentos comete um erro de ser exclusivo, só ele, querer ser dono (do bolsonarismo). Isso acaba afugentando outros possíveis aliados que têm um sentimento semelhante — avaliou.

No lado do PL, Jorginho já admite um possível cenário de enfrentamento com o PSD na disputa pela reeleição ao governo e diz que “disputar a eleição é livre para qualquer partido”.

— Fazer composições é a coisa mais natural que tem. Eu estou com o PP dentro do governo, estou com o MDB, tenho apoio do PSD na Assembleia, eles não estão oficialmente dentro do governo, mas o Paulo Bornhausen [secretário estadual de Articulação Internacional] é do PSD, apoiei o Topázio em Florianópolis, que é do PSD. Enfim, eu não tenho dificuldade com ninguém. Agora, quem quiser ser candidato, apresente e dispute a eleição. Isso é a coisa mais simples do mundo. Agora, eu de forma muito humilde, como sempre fui, vou tentar construir um arco de aliança para 2026 — pontuou.

Possível união testada em Florianópolis não é descartada

Embora os projetos de 2026 que possam opor os dois partidos com os principais resultados da direita, a divisão entre PL e PSD pode ocorrer em forma de “guerra fria”, com as legendas tentando mostrar quem pode ter mais artilharia na corrida pelo governo do Estado. Para isso, os exércitos formados pelos novos prefeitos devem ajudar na conquista de aprovação e popularidade nos territórios.

Em meio a tudo isso, há ainda quem acredite em um possível projeto conjunto entre PL e PSD em 2026. Um exemplo bem-sucedido de união dos partidos, que fugiu à regra de divisão na direita, ocorreu na reeleição de Topázio Neto à prefeitura de Florianópolis. O prefeito da Capital, filiado ao PSD, “misturou o sangue” com o PL, caminhou ao lado do governador e da vice indicada por ele, teve o filho do governador na coordenação da campanha, e venceu a disputa ainda em primeiro turno, com 58% dos votos.

Uma eventual conciliação de interesses de PL e PSD, com o governador Jorginho buscando a reeleição e João Rodrigues disputando uma das duas vagas de senador, é um cenário menos provável, mas se ficar de pé deve passar pelo papel de Topázio como um intermediador. O prefeito da Capital, por sinal, precisará gerir os espaços dos dois partidos no poder já na montagem do novo governo.

Questionado sobre qual deve ser seu papel no processo de 2026, Topázio, que anunciou que ficará no cargo até o fim do mandato, afirma ainda acreditar em uma possível união de forças.

— Vou aguardar um pouquinho, ver como as melancias se acomodam no caminhão, mas eu acho que o Estado só tem a ganhar se a gente conseguir fazer um projeto importante para 2026 que possa juntar o governador, o João Rodrigues, outras forças do Estado — avaliou.

‘Difícil recomposição’, diz especialista

O cientista político e professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Julian Borba, confirma a divisão no campo da direita e diz que a rivalidade das campanhas deste ano tornou mais difícil um projeto conjunto entre PL e PSD.

— A quebra de relação entre PSD e PL em função desse cenário dificilmente coloca os partidos em condição de recomposição para 2026. O natural é que saiam em duas candidaturas — aponta.

Ele avalia que os dois partidos saem fortalecidos e já se colocam para o jogo de 2026 — a fala de João Rodrigues após a vitória de domingo seria um sinal disso. Borba pondera apenas que por se tratar de uma eleição “casada”, com disputa presidencial, as definições de 2026 dependem em grande medida das decisões nacionais dos partidos, o que pode impactar até mesmo na existência das duas candidaturas.

À espreita de PSD e PL nesta segmentação da direita pode estar o Partido Novo. A vitória de Adriano Silva, prefeito de Joinville reeleito com percentual expressivo, 78,7% dos votos, na maior cidade do Estado, também é apontada como resultado que pode cacifá-lo para um projeto estadual. Para isso, um desafio seria a estrutura partidária no Estado. Além disso, este ano o partido esteve vinculado ao projeto do PSD, com a aliança vitoriosa em Joinville e outra em Blumenau, onde Odair Tramontin foi segundo colocado na corrida pela prefeitura.

Nos últimos dias, Adriano Silva afirmou estar focado no município e não pensar em 2026 — mas também não descarta de imediato o cenário, admitindo que deve ser consultado pelo partido sobre as eleições estaduais.

Jean Laurindo – NSC
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