De forma simples, alguns autores explicam que o viés hiperbólico nos faz pensar que quanto mais próxima a recompensa estiver no tempo, mais atrativa ela parece.
São conhecidas as experiências feitas há décadas com crianças de 4 anos em que os pesquisadores ofereciam um marshmellow agora, ou dois marshmellows em 15 minutos. E, previsivelmente, menos crianças decidiam esperar porque seria muito difícil para elas adiar a gratificação.
Em qualquer caso, os resultados destas experiências variam substancialmente dependendo das características da amostra e da inclusão de variáveis como a origem socioeconômica dos sujeitos, a idade ou a capacidade cognitiva, entre muitas outras.
Mas, no final das contas, a impulsividade é uma força que pode trabalhar contra nós na infância ou na idade adulta.
Se eles lhe oferecessem R$ 100 agora ou R$ 120 em uma semana, o que você preferiria?
Quando a sua decisão opera sob viés cognitivo, é provável que você opte por ter menos dinheiro, mas mais cedo.
O viés nas decisões financeiras
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Legenda da foto, O viés é estudado por profissionais de áreas como Economia, Neurociência ou Psicologia
O desconto hiperbólico “muitas vezes nos leva a tomar decisões das quais nosso ‘eu do futuro’ pode se arrepender”, explica Irene Scopelliti, professora de Marketing e Ciências do Comportamento da Escola de Negócios Bayes, na Universidade de Londres.
“É considerado um viés em vez de uma forma racional de valorizar o tempo”, diz à BBC News Mundo.
Para alguns especialistas, esse viés psicológico poderia ser explicado como resultado do processo evolutivo, visto que o imediatismo nos impulsiona como se fosse um vestígio do nosso passado animal.
Outro motivo que pode influenciar esse tipo de decisão é o hábito da procrastinação, entendido como o ato de adiar coisas que podem ser feitas no presente.
A ideia de imprevisibilidade também entra em jogo: é melhor ter algo certo agora em vez de esperar porque no caminho “coisas podem acontecer” e você ficará de mãos vazias.
Em qualquer caso, embora as pessoas tenham condições psicológicas diferentes que as levam a favorecer recompensas imediatas, o preconceito geralmente está à espreita nas nossas cabeças.
O desconto hiperbólico é ativado quando, por exemplo, optamos por assistir televisão agora em vez de estudar para uma prova na próxima semana, comer pizza em vez de ir à academia ou comprar algo desnecessário hoje em vez de economizar para as férias ou para a aposentadoria.
Aplicado às finanças, o desconto hiperbólico não é claramente um bom conselheiro quando temos de tomar decisões monetárias, como quando pedimos um empréstimo para comprar um carro ou hipotecar uma casa.
“Isso funciona como uma balança”, diz Turney McKee, diretor de pesquisa da consultoria The Decision Lab, com sede em Montreal, no Canadá, à BBC News Mundo, no sentido de pesar os custos em relação aos benefícios.
O que fazemos é tentar prever a sua influência futura no equilíbrio dessa balança.
Como superá-lo?
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Legenda da foto, ‘Dispositivos de compromisso’ ou lembretes podem ser usados para evitar preconceitos
Em termos práticos, Vincent Berthet propõe três ferramentas que podem ser eficazes na tentativa de superar o viés do desconto hiperbólico.
Uma delas é utilizar “dispositivos de compromisso”, como definir planos de poupança automáticos ou estabelecer prazos que ajudem a evitar decisões impulsivas.
Um bom exemplo, explica Berthet, é o programa criado pelo Prêmio Nobel da Economia Richard Thaler e pelo economista Shlomo Benartzi que aumenta as poupanças das pessoas para a aposentadoria sempre que recebem um aumento salarial.
A segunda é o “compromisso prévio”, que envolve evitar tentações futuras, se comprometendo antecipadamente a fugir delas. Isto pode ser feito através do agendamento de investimentos regulares ou, por exemplo, do agendamento de sessões de exercício físico que não podem ser facilmente adiadas.
E a terceira é usar lembretes (visuais, escritos ou conversas com outras pessoas) sobre os efeitos positivos de manter uma decisão a longo prazo.
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Legenda da foto, O desconto hiperbólico nos leva a tomar decisões das quais o nosso ‘eu futuro’ poderá se arrepender
Compreender os vieses que podem estar presentes quando tomamos decisões e reconhecer como influenciam as nossas decisões é um bom começo, afirma Irene Scopelliti.
Entre as técnicas específicas para mitigar os seus efeitos está, além do “compromisso prévio” que Berthet mencionou, a criação de pequenas “recompensas imediatas” para ajudar a reforçar comportamentos positivos que trazem benefícios a longo prazo.
Essa fórmula é utilizada por diversos aplicativos que motivam os usuários a manter, por exemplo, um nível diário de prática esportiva ou de idiomas, dando pequenas recompensas imediatas como pontos ou mensagens positivas no celular.
Uma boa ideia é nos incentivarmos a praticar exercícios, como assistir a uma série da Netflix enquanto corremos na esteira (em vez de assistir no sofá).
Criar períodos de reflexão, afirma o especialista, é outra estratégia útil. Trata-se de esperar (um dia, uma semana, um mês) antes de fazer qualquer compra não essencial para evitar decisões compulsivas.
Basicamente, trata-se de adiar um pouco a gratificação para ter certeza de que a decisão é apropriada.
Também é útil tornar a recompensa futura mais tangível. Se a recompensa são as férias, vale colocar uma foto do destino como papel de parede, ou até mesmo imprimir uma foto e colocar na geladeira.
É literalmente “ver” o prêmio no final do caminho ou imaginar como o eu do futuro se sentiria em relação a essa decisão.
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Legenda da foto, Uma das técnicas é criar pequenas ‘recompensas imediatas’ para ajudar a reforçar comportamentos positivos que trazem benefícios a longo prazo
Precisamente essa técnica de se projetar no tempo, diz Turney McKee, conhecida como pensamento futuro episódico, ou às vezes chamada de “viagem mental no tempo”, provou ser muito eficaz.
O pensamento de alta interpretação também provou ser eficaz, acrescenta, se referindo ao pensamento abstrato que nos permite olhar para o quadro geral, sem nos concentrarmos apenas nos detalhes.
Se estamos falando de decisões práticas mais previsíveis e de longo prazo, como contrair uma hipoteca de taxa fixa ou um empréstimo de carro, é útil fazer as contas e comparar o custo total ao longo do tempo, diz.
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Legenda da foto, A ‘viagem no tempo’ para falar com o seu ‘eu futuro’ é uma técnica amplamente utilizada
A mesma lógica pode ser aplicada aos serviços de assinatura, onde o custo médio mensal costuma ser menor na contratação do serviço por um período maior.
Talvez isso não aconteça com o dinheiro, mas o viés hiperbólico pode estar presente em coisas tão simples como querer ter uma vida mais saudável, mas não conseguir resistir a alimentos que fazem mal e ao sedentarismo.
Depois de conversar com os especialistas, provavelmente me animarei a experimentar a técnica de conversar com meu futuro eu, para ver se me atrevo a contar a ele sobre as decisões erradas que às vezes tomo sem olhar para o longo prazo… e para ver se talvez ele pode me dar bons conselhos.
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