Uma investigação da BBC descobriu que havia uma operação sofisticada envolvendo um agente intermediário e uma rede de recrutadores encarregados de recrutar homens para os eventos.
Após a reportagem da BBC, uma ação civil foi movida em Nova York acusando Jeffries e Smith de tráfico de pessoas, estupro e agressão sexual.
Na terça-feira, um promotor de Nova York acusou Jeffries de usar sua fortuna, poder e status de CEO para “fazer tráfico de homem para seu próprio prazer” e para o prazer de seu parceiro, Smith.
O promotor Breon Peace disse que o casal empregou Jacobson para recrutar e conduzir testes com homens de diversas partes do mundo, pagando-os por atos sexuais.
Depois que Jeffries aprovava os homens, eles eram levados à sua residência em Nova York, onde eram pressionados a consumir álcool, Viagra e relaxantes musculares, diz Peace.
Os promotores também acusam Jeffries e Smith de terem instruído outras pessoas ou de eles mesmo terem “injetado nos homens substâncias que provocam ereção” quando eles estavam incapazes ou não queriam participar de atividades sexuais.
Os promotores disseram que o ex-CEO “gastou milhões de dólares em uma infraestrutura gigantesca para apoiar a operação e manter tudo em segredo”. Isso incluía viagens internacionais, hotéis, equipes próprias e segurança nos eventos.
Os promotores disseram que 15 vítimas foram citadas no indiciamento, mas que a operação incluiu “dezenas e mais dezenas de homens”.
A ação também acusou a Abercrombie & Fitch de ter financiado a operação de tráfico sexual liderada por seu ex-CEO ao longo das duas décadas em que ele esteve no comando.
Segundo a lei dos EUA, o tráfico sexual inclui fazer com que um adulto viaje para outro Estado ou país para fazer sexo por dinheiro usando força, fraude ou coerção.
O advogado de algumas das vítimas, Brad Edwards, disse que as prisões desta semana foram um “primeiro passo”.
“Essas prisões são um grande primeiro passo para obter justiça para as muitas vítimas que foram exploradas e abusadas por meio desse esquema de tráfico sexual que operou por muitos anos sob a cobertura legítima fornecida pela Abercrombie”, afirmou Edwards.
“A reportagem sem precedentes da BBC, juntamente com o processo com que entramos detalhando a operação, são os responsáveis por essas prisões monumentais. Este foi o resultado de um jornalismo investigativo impressionante.”
Promessas de carreira de modelo
Em sua investigação, a BBC falou com 12 homens que descreveram ter participado ou organizado eventos envolvendo atos sexuais realizados para Jeffries, de 79 anos, e seu parceiro britânico, Smith, de 60 anos, entre 2009 e 2015.
Os oito homens que compareceram aos eventos disseram que foram recrutados por um intermediário que a BBC identificou como James Jacobson.
Jacobson, de 70 anos, disse anteriormente à BBC em uma declaração por meio de seu advogado que se ofendeu com a sugestão de que havia “qualquer comportamento coercitivo, enganoso ou forçado” por parte dele e que ele não tinha “conhecimento de tal conduta por outros”.
A BBC também entrevistou dezenas de outras fontes, incluindo ex-funcionários domésticos do casal.
Alguns dos homens com quem a BBC falou disseram que foram enganados sobre a natureza dos eventos ou não foram informados de que sexo estava envolvido.
Outros disseram que entenderam que os eventos seriam sexuais, mas não exatamente o que era esperado deles. Todos foram pagos.
Vários disseram à BBC que o intermediário ou outros recrutadores levantaram a possibilidade de oportunidades de atuar como modelo para a A&F.
David Bradberry, então com 23 anos e aspirante a modelo, disse que “foi deixado claro” para ele que sem fazer sexo oral em Jacobson, ele não conheceria o CEO da A&F, Jeffries.
“Foi como se ele estivesse vendendo fama. E o preço era conformidade”, disse Bradberry à BBC.
Bradberry disse que mais tarde compareceu a uma festa na mansão de Jeffries nos Hamptons, em Long Island, onde conheceu Jeffries e fez sexo com ele.
Ele disse que a localização “isolada” e a presença da equipe pessoal de Jeffries, vestida com uniformes da A&F, supervisionando eventos, significava que ele “não se sentia seguro para dizer ‘não’ ou ‘não me sinto confortável com isso'”.
Depois que a investigação inicial da BBC foi publicada no ano passado, a A&F anunciou que estava abrindo uma investigação independente sobre as alegações levantadas.
Quando questionada recentemente quando este relatório seria concluído – e se as descobertas seriam tornadas públicas – a empresa se recusou a responder.
Assim como Jeffries e Smith, a marca vem tentando fazer com que o processo civil contra ela seja rejeitado, argumentando que não tinha conhecimento do “suposto empreendimento de tráfico sexual” liderado por seu ex-CEO que a empresa foi acusada de ter financiado.
No início deste ano, um tribunal dos EUA decidiu que a A&F deve cobrir o custo da defesa legal de Mike Jeffries enquanto ele continua a lutar contra o processo civil por tráfico sexual e estupro.
O juiz decidiu que as alegações estavam vinculadas à sua função corporativa depois que ele processou a marca por se recusar a pagar seus honorários advocatícios.
A marca disse que não comentaria questões legais.
No entanto, em sua defesa apresentada ao tribunal, a A&F disse que sua atual equipe de liderança “não tinha conhecimento” das alegações até que a BBC a contatou, acrescentando que a empresa “abomina o abuso sexual e condena a suposta conduta” de Jeffries e outros.
Em 2014, Jeffries deixou o cargo de CEO após queda nas vendas e saiu com um pacote de aposentadoria avaliado em cerca de US$ 25 milhões (RS$ 142 milhões), conforme os registros da empresa na época. Ele chegou a ser um dos CEOs mais bem pagos dos Estados Unidos.
Jeffries também enfrentou acusações de discriminação contra funcionários, preocupações sobre suas despesas extravagantes e reclamações sobre a influência não oficial de seu parceiro, Matthew Smith, dentro da A&F.
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