Não chega a ser apatia, mas cientistas políticos que analisam o comportamento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se dizem surpresos com o estilo do chefe da Nação que aparenta administrar as questões do País muito mais com base na reação do que chamando para si a ação. Se comparado com Lula I e Lula II, esses analistas consideram que o presidente está longe de demonstrar a habilidade política que sempre o caracterizou. “O governo está completamente sem rumo. Esperava mais dele”, diz o professor Sergio Praça, professor e pesquisador da Escola de Ciências Sociais do CPDOC (FGV-RJ).
Para ele, o mais surpreendente é que Lula já governou o Brasil outras duas vezes e, na visão de Praça, foi muito bem sucedido. Os cenários nacional e principalmente internacional eram muito diferentes e os indicadores econômicos não vão tão mal, na visão dele. No entanto, o professora alerta que apoiar-se apenas neste momento de bonança pode ser arriscado. “E se algum momento a situação mudar e as expectativas não forem cumpridas?”, pergunta.
Para o professor Carlos Pereira, colunista do Estadão que está lançando o livro “Por que a democracia brasileira não morreu” (Companhia das Letras) em parceria com seu colega, Marcus André Melo, Lula tem cometido o equívoco de centralizar recursos e poder entre o PT e o próprio governo, afastando parceiros que trata como apêndices e isso vêm dificultando ações mais incisivas do Governo. “Ele tem lidado muito mal com os sócios do presidencialismo de coalizão que, por sua vez, também passam a se sentir descompromissados com o Governo. E esse creio que é um problema que dificulta sobremaneira a relação com o Congresso, dando essa sensação de desorganização”, observa Pereira.
Mais do que descoordenação, o professor Claudio Couto, coordenador do mestrado Profissional em Gestão e Políticas Públicas (MPGPP) da EAESP-FGV, diz ver um certo “bater de cabeça”, que resulta nos atos vacilantes que o governo pratica, como recuos e posições divergentes entre ministros e o próprio presidente, como se viu nos casos da chamada “taxa das blusinhas”. Ele também aponta que Lula, diferentemente dos mandatos anteriores, não tem por perto aquele grupo com quem trocava ideias e se atrevia a confrontá-lo quando fosse necessário. Esse ponto vem sendo comentado por muitos dos que estiveram com o presidente recentemente. “Faz falta esse diálogo, esse confronto que ajudava o presidente a tomar decisões e isso é preocupante”, diz.
Em vez da troca de ideias, Couto nota um clima de confronto entre os chamados “ministros da Casa”, que atuam no Palácio do Planalto, caso de Rui Costa, da Casa Civil, Alexandre Padilha, Relações Institucionais, e Marcio Macêdo, Secretaria Geral. O último, inclusive, pouco tem aparecido e a última grande tarefa que estava em sua cota de funções (organização com a sociedade civil) foi a organização do dia 1° de Maio que virou um verdadeiro fiasco e deixou o presidente bastante contrariado pela falta de público.
“E isso sem contar com os que jogam uns contra os outros, como Rui Costa, que vive em conflito aberto com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tumultuando o ambiente ainda mais”, diz Couto. Toda essa confusão, acredita ele, se reflete também na ação do presidente Lula, que acaba falando demais e em momentos inapropriados, como, por exemplo com a batalha que arrumou com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. “Em alguns momentos, parece que Lula não percebeu como se deram as mudanças no cenário interno e externo”, afirma.
No Congresso, aliados acreditam que somente mudanças no Ministério poderão dar uma “sacudida” no governo. Se essas mudanças acontecerem, aliados preveem tempos melhores, principalmente na relação com os parlamentares que, neste biênio administrado na Câmara pelo presidente Artur Lira, está mais empoderado do que em antigas gestões. “De qualquer forma, Lula terá que voltar a conversar com os parlamentares e a tomar as rédeas do seu mandato como fez em seus dois mandatos anteriores, Se não fizer isso, seja quem for o presidente da Casa, não vai funcionar”, diz Couto.
Estadão.