Investimento em genética de ponta e a adaptação da raça Brangus ao clima catarinense impulsionam a produção de carne premium no Estado
Não é de hoje que a pecuária bovina catarinense tem se destacado. O melhoramento genético aliado, a escolha de raças europeias, demonstra que também é possível alcançarmos excelência na pecuária de corte – exemplo disso é a ascensão da raça Brangus, que tem colocado Santa Catarina no cenário nacional da bovinocultura.
Os campos do município de Água Doce, abrigam várias fazendas dedicadas à criação de gado de alta qualidade. Inclusive, a cidade foi reconhecida oficialmente como a capital nacional da genética bovina.
Em uma extensa área de planícies, quase na divisa com o Paraná, encontra-se a Fazenda Sonho e Realidade, que possui 80 animais da raça Brangus e um processo de manejo que une melhoramento genético, inseminação artificial, comercialização de sêmen e engorda.
O pecuarista Vanderlei Berté conta que eles buscam os Brangus nos melhores criatórios do Brasil. Essa raça, resultado do cruzamento com zebuínos, reúne resistência e rusticidade, qualidades ideais para atender às necessidades de diferentes regiões do país. A expectativa é que o Brangus tenha ótima aceitação no mercado.
Hoje o plantel conta com cerca de 2.000 cabeças, incluindo as raças Limousin, Simental, Devon, Brahman, Hereford, Braford e Brangus. Para dar conta de tudo isso, o empresário precisou transformar a fazenda em um dos maiores centros de criação e reprodução no Estado.
“Hoje o nosso foco é produzir animais de altíssima qualidade e a fecundação in vitro nos traz uma habilidade, uma rapidez, de podermos evoluir usando as melhores fêmeas e os melhores reprodutores que a gente importa” – conta Vanderlei.
Luciano Castilho, médico veterinário e um dos responsáveis pelo processo de transferência de embriões e fertilização in vitro explica que esse processo é muito importante atualmente porque ele oferece vantagens como o aumento genético de forma mais rápida e acessível.
Com essa técnica, é possível multiplicar animais de alto padrão genético. Por exemplo, uma única doadora pode produzir 20, 30 ou até 40 embriões em uma estação, ou gerar 40 a 50 prenhezes em um ano. Naturalmente, ela teria capacidade de produzir apenas um bezerro nesse período.
A raça Brangus se destaca pelo alto potencial produtivo das fêmeas, crescimento e engorda do rebanho. Além da parte técnica ser importante para sua reprodução, o trabalho operacional de laboratório é essencial para a continuidade do plantel.
Ótima adaptação em Santa Catarina
As características da raça Brangus permitem uma ótima adaptação dos animais ao ambiente catarinense. E é na fronteira do Estado com a Argentina que se encontra um sistema de criação de engorda de animais que atendem a agroindústria para o processamento de carnes de qualidade.
A Cabanha Ouro Preto, em Dionísio Cerqueira, no extremo oeste do Estado, fronteira com a Argentina, é cercada por belezas naturais. O trabalho com bovinos começou com a raça Charolês, até o produtor perceber que os argentinos estavam inovando na pecuária de corte.
Atualmente, o plantel da propriedade é formado por 800 animais – pelo menos 120 deles já chegaram ao standard da raça, com 3/8 de sangue Zebu ou Nelore e 5/8 de sangue Taurino ou Angus.
O foco agora é tornar o rebanho mais uniforme por meio do melhoramento genético. Quanto mais puro o animal, maior o ganho de peso e melhor a conversão alimentar. Com essa estratégia, os resultados já têm sido excelentes para o produtor.
Em sistemas de confinamento, um gado como o Brangus leva cerca de 90 dias no cocho para estar pronto para o abate. Já um animal mais mestiço pode levar de 95 a 100 dias. Essa eficiência proporciona melhores resultados financeiros, além de um sabor de carne superior, tornando-se uma escolha mais vantajosa para o produtor.
Outra vantagem do Brangus, além do ganho de peso e da maciez da carne, é sua resistência a parasitas, herdada da rusticidade do Nelore e de outras raças zebuínas.
Destaque na Expo Chapecó
Durante a Expo Chapecó, em outubro deste ano, a raça Brangus foi um dos destaques. A exposição nas premiações e a troca de experiência entre profissionais e produtores, comprovam a expansão da pecuária catarinense.
Chapecó é o centro financeiro e produtivo do Oeste catarinense, contando com 275 mil habitantes, sede de agroindústrias, além de ser a sexta maior economia do Estado e berço do cooperativismo e do agronegócio.
Durante a primeira edição da Expo Chapecó, que reuniu animais premiados – caprinos, ovinos e bovinos -, a raça Brangus se destacou justamente por conta do crescimento da produtividade em Santa Catarina.
A raça Brangus surgiu nos Estados Unidos, em 1912. Naquela época precisavam de animais que tivessem um alto índice de produtividade de conversão com relação à carne. Dessa forma, os americanos uniram a raça Angus com a Zebu por se adaptarem às condições de clima que, por sinal, é igual ao que existe no Brasil.
Aliás, aqui ela acabou surgindo no Rio Grande do Sul, há 45 anos, por conta do trabalho da Embrapa Sul. Foi a ascensão da raça que levou a coordenação da Expo trazer para o evento a Associação Brasileira de Criadores de Brangus e aproximadamente 40 animais de cabanhas. Hoje 35% do gado de corte que vai para abate sai da região Oeste Catarinense e 30% dos touros comercializados para melhoramento genético vem para a região.
Animais de pura origem, com bom percentual de gordura, ótimo ganho de peso, rendimento e musculosidade são algumas das principais características avaliadas em eventos como este. Quem participa, seja para comprar ou vender Brangus, busca excelência na produção de carne.
Isso é alcançado graças ao contínuo investimento em melhoramento genético. Ao longo dos anos, o número de criadores que apostam na raça tem crescido, atraídos pela rusticidade, pela qualidade da carne e pelo excelente custo-benefício. Além disso, o Brangus oferece a vantagem de alcançar o ponto de abate mais rapidamente do que outras raças convencionais.
De acordo com Roberto Grecelé, diretor executivo da Associação Brangus, a venda de touros em Santa Catarina teve um crescimento expressivo nos últimos dois anos, acompanhada por uma forte demanda por reprodutores da raça. Muitos produtores no Estado também estão investindo em doadoras de embrião para formar seus próprios plantéis. Além disso, a comercialização de sêmen Brangus segue em expansão, refletindo uma tendência observada em outros estados, como Mato Grosso, Goiás e São Paulo.
Nessas regiões, os produtores adotam uma visão estratégica: não apenas criam bois, mas focam na produção de carne com alta eficiência e rentabilidade. Nesse cenário, o Brangus se destaca como uma ferramenta indispensável para uma pecuária competitiva, especialmente para quem busca resultados financeiros sólidos.
Ao estudar as características geográficas e climáticas de Santa Catarina, a associação identificou que as terras catarinenses são altamente propícias para a ampliação dos plantéis. O Estado tem avançado significativamente na pecuária e na produção de carne de qualidade, e a raça Brangus se encaixa perfeitamente nesse contexto.
A Expo Chapecó, além de ser um evento totalmente dedicado ao setor agro, promoveu diversos simpósios e palestras, incluindo uma sobre a raça Brangus. Entre os palestrantes, destacou-se Gil Tozatti Fernandes, zootecnista e criador da raça no Rio Grande do Sul.
Durante sua apresentação, ele incentivou os bovinocultores do Estado a investirem na atividade, destacando as características do Brangus que foram aprimoradas ao longo de décadas. Para ele, o futuro da raça Brangus é muito promissor e, apesar dos desafios enfrentados na produção de bovinos de corte em ambientes mais exigentes, a raça tem se destacado.
Nos Estados Unidos, por exemplo, o Brangus é a raça sintética mais utilizada, o que reflete sua eficiência e versatilidade. No Brasil, onde muitas práticas americanas são adotadas pela objetividade na pecuária, a expansão do Brangus segue na mesma direção.
Em Santa Catarina, a raça mostra potencial significativo de crescimento, especialmente na região oeste e no litoral. Rebanhos já estabelecidos no litoral demonstram que o cenário é promissor para o desenvolvimento da atividade no Estado.
A pecuária catarinense já é um destaque nacional e mundial pela produção de aves e suínos e agora mira na bovinocultura, com tecnologia e alta qualidade. Para saber mais sobre a produção de Brangus, confira o episódio do programa Agro Saúde e Cooperação. O projeto, desenvolvido pelo Grupo ND, tem parceria com a Ocesc, Aurora, SindArroz Santa Catarina, Sicoob e Fecoagro.
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