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A reação de Milei aos cantos racistas da seleção argentina contra jogadores da França: ‘Ninguém vai dizer o que a campeã do mundo pode fazer’

 

“Nenhum governo pode dizer à Seleção Argentina, Campeã Mundial e Bicampeã da Copa América, o que dizer, o que pensar ou o que fazer.”

Essa é parte da publicação na rede social X feita pelo governo do presidente da Argentina, Javier Milei, sobre a polêmica dos cantos racistas de alguns jogadores durante a celebração do título da Copa América no domingo (14/7) em Miami.

Milei demitiu o subsecretário de Esportes do país, Julio Garro, após ele cobrar um pedido de desculpas da seleção argentina e do titular da Associação de Futebol Argentino (AFA), Claudio Tapia, depois do canto racista.

seleção argentina de futebol está no centro de uma polêmica por causa dos gritos de alguns de seus jogadores durante a comemoração após a conquista da Copa América.

Nas imagens, alguns atletas fazem referência à origem africana de jogadores da seleção francesa e usam um insulto homofóbico para se referir ao atacante Mbappé.

Esses cantos, que alguns torcedores argentinos usaram durante a Copa do Mundo de 2022 no Catar, foram entoados por vários jogadores argentinos, incluindo o meio-campista Enzo Fernández, que transmitiu a comemoração ao vivo por meio de sua conta no Instagram.

A Federação Francesa de Futebol (FFF) anunciou na tarde de terça-feira (16/7) que vai processar a Associação Argentina de Futebol (AFA) pelos gritos “racistas“.

“O presidente da Federação Francesa de Futebol, Philippe Diallo, condena nos termos mais veementes os inaceitáveis ​​comentários racistas e discriminatórios feitos contra os jogadores da seleção francesa no contexto de um cântico entoado por jogadores e torcedores da seleção argentina após a vitória na Copa América, que foi veiculado em vídeo nas redes sociais”, informou a FFF em nota.

“Dada a gravidade dos comentários chocantes, contrários aos valores do esporte e dos direitos humanos, o presidente da FFF decidiu denunciar diretamente a associação argentina e a Fifa, e apresentar uma queixa judicial por comentários insultuosos de natureza racial e discriminatória”, complementa a nota.

Enzo Fernández

CRÉDITO,GETTY IMAGES

Legenda da foto,Enzo Fernández, que joga pelo Chelsea na Inglaterra, pediu desculpas após gritos contra jogadores franceses durante as comemorações da Copa América

‘Racismo sem remorso’

Fernández, que joga no Chelsea, da Inglaterra, viu companheiros do time que são de origem francesa demonstrarem repúdio à comemoração.

O zagueiro Wesley Fofana, de 23 anos, publicou em sua conta do Instagram o vídeo da comemoração argentina com a frase: “Futebol em 2024: racismo sem remorso.”

Além de Fofana, que tem pai marfinense e mãe francesa, juntaram-se ao protesto os jogadores Disasi e Malo Gusto, que também têm raízes africanas e deixaram de seguir Fernández nas redes sociais.

Na quarta-feira (17/7), Fernández, que foi comprado pelo clube inglês há duas temporadas por mais de US$ 100 milhões (aproximadamente R$ 550 milhões), divulgou um comunicado no qual pede desculpas pelos gritos durante a comemoração.

“Quero pedir desculpas sinceras por um vídeo postado no meu canal do Instagram durante as comemorações da seleção. A música inclui uma linguagem muito ofensiva e não há absolutamente nenhuma justificativa para essas palavras”, disse o atleta

“Oponho-me à discriminação em todas as suas formas e peço desculpas pela euforia das comemorações na Copa América. O vídeo, aquele momento e essas palavras não refletem as minhas crenças ou o meu caráter”, acrescentou.

A BBC tentou contato com a AFA para que a entidade pudesse se posicionar, mas não obteve qualquer resposta até a publicação desta reportagem.

O que disse o governo da Argentina

Fofana e Fernández
Legenda da foto,O zagueiro francês Wesley Fofana (ao centro) é companheiro de Fernández (à direita) no Chelsea

Em entrevista à rádio local Urbana Play, o então subsecretário de Esportes da Argentina, Julio Garro havia afirmado que o episódio “é algo que nos deixa numa má posição como país”.

“Penso que o capitão da Seleção Nacional também deveria vir a público pedir desculpa por esse caso. O mesmo deveria valer para o presidente da AFA. Acho que é oportuno”, disse.

As declarações geraram uma onda de críticas nas redes sociais.

Em sua defesa, Garro respondeu que fez os comentários a título pessoal enquanto tentava se distanciar de suas palavras, escrevendo nas redes sociais: “Nego categoricamente que tenha pedido para Messi pedir desculpas. Ele nos honra permanentemente com a sua qualidade humana e desportiva”.

Milei repostou uma publicação no X que criticava a cobranças de pedido de “desculpas a alguns europeus colonizadores por uma música que também diz a verdade”.

A vice-presidente, Victoria Villarruel, também defendeu o canto racista dos jogadores argentinos.

“Nenhum país colonialista nos vai intimidar por uma canção de torcida ou por dizermos verdades que não querem admitir. Parem de fingir indignação, hipócritas. Enzo [Fernández], eu te banco, Messi, obrigado por tudo! Argentinos sempre de cabeça erguida!”, escreveu no X.

Philippe Diallo

CRÉDITO,GETTY IMAGES

Legenda da foto,Philippe Diallo é o presidente da Federação Francesa de Futebol

Investigação disciplinar

Já o Chelsea emitiu um comunicado na quarta-feira (17/7) em que divulga o início de uma investigação disciplinar sobre as ações do jogador.

“O Chelsea considera inaceitável qualquer forma de comportamento discriminatório […] Reconhecemos e apreciamos o pedido público de desculpas do nosso jogador e usaremos isso como uma oportunidade de educação. O clube iniciou um procedimento disciplinar interno”, diz o texto..

A Argentina venceu a Colômbia por 1 a 0, na prorrogação da final da Copa América, e conquistou o seu 16º título na competição, o que gerou a comemoração dos jogadores argentinos.

O polêmico cântico se tornou popular durante a Copa de 2022 no Catar, especialmente depois que a Argentina derrotou a França na final e conquistou o terceiro título mundial de sua história.

Um porta-voz da Fifa disse à BBC que “eles estão cientes de um vídeo que circula nas redes sociais” e que “o incidente está sendo investigado”.

“A Fifa condena veementemente qualquer forma de discriminação por parte de qualquer pessoa, incluindo jogadores, torcedores e dirigentes”, conclui o porta-voz da entidade.

bbcnews.com

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