Trabalho que garantiu o diploma foi baseado em vivências de sua trajetória profissional, as quais
revelavam, em situações cotidianas, os costumes históricos de uma sociedade
“Pensei: quer saber de uma coisa? Vou fazer o ENEM. Passei, não de primeira, mas na segunda chamada!”, conta Celso Jacob Simon, que, aos 75 anos de idade, acaba de se graduar em História pela Universidade Federal da Fronteira Sul UFFS). Engana-se quem pensa que foi por falta de vontade. Na verdade, Simon tentou a graduação outras vezes, mas teve de adiar o estudo por décadas, em razão de seu trabalho como alfaiate.
O princípio
Nascido em Seara e morador de Chapecó há décadas, Celso Jacob Simon começou a atuar como alfaiate muito jovem, ainda aos 16 anos, em sua cidade natal. Em meio à necessidade de melhores condições financeiras, precisou parar de estudar para investir na profissão e o tempo foi passando enquanto ele tomava conta do casamento e da família.
A luta pelo estudo
Somente depois de seus 50 anos, Simon conseguiu completar o primeiro e o segundo grau do ensino básico, no Paraná. “Uma vez por mês, saíamos na quinta e voltávamos no sábado. Fiz isso durante dois anos”, conta. Na sequência, passou no vestibular no início dos anos 2000, mas precisou adiar outra vez do estudo por questões financeiras. Em uma instituição comunitária, o custos das mensalidades pesaria no orçamento.
Anos depois, a tentativa final. Simon tentou por duas vezes passar pelo Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e enfim conseguiu. Ingressou em 2013 no curso de História da UFFS, no campus de Chapecó. Dos 50 alunos que começaram naquela turma, apenas seis se formaram no tempo regular e entre eles não estava Simon. “Tem que estudar. A federal não é fácil”, explica.
A consagração
Dez anos depois, o jovem senhor Celso Jacob Simon recebeu seu diploma pelo término do curso, em cerimônia realizada no dia 1° de setembro. “Se você tentar, você pode errar. Se você não tentar, você já errou!”, foi o lema de Simon para prosseguir. Apesar da recente cerimônia, a graduação já estava encaminhada desde 2021, quando Simon teve seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) aprovado.
A história que garantiu o diploma
Graduando-se em História, Simon pensava em utilizar sua vivência na alfaiataria para desenvolver o TCC, como forma de contribuição ao curso. Incialmente, cogitou escrever sobre um contemporâneo da sua profissão, mas depois foi encorajado por seu orientador, Antônio Miranda, a contar a história dele próprio.
Em junho de 2021, Simon defendeu seu TCC após uma jornada que permitiu a ele descobrir ainda mais sobre o trabalho de coser, como dados históricos a respeito da profissão levantados no desenvolvimento de seu projeto final. Simon então trouxe à luz memórias suas da alfaiataria que sempre estiveram ligadas à História. No TCC, contou, a partir de sua perspectiva do local onde trabalhou por muitos anos, relatos que marcam os costumes históricos de uma sociedade.
“Aquele espaço que se fazia roupas, também servia como um ponto de encontro de pessoas influentes e políticos da cidade. Existia uma roda de chimarrão, na qual essas pessoas conversavam sobre tudo que acontecia na cidade. Eu chegava uma hora antes do meu horário para participar desse momento de conversa. Essa roda de chimarrão continuou acontecendo por mais de 50 anos e após a morte do alfaiate Martinelli ela acontecia em outro espaço — Celso Jacob Simon”
Fonte: TVBV