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Catarinense retrata história da imigração e destaca a cultura italiana em quadrinhos

A imigração italiana no Brasil completou 150 anos e é composta de muitas histórias de famílias que deixaram suas regiões de origem em busca de uma nova vida em terras brasileiras. Como é o caso dos antepassados da ilustradora e escritora Cidiane Guisso, de Concórdia, no Meio-Oeste de Santa Catarina, que tem utilizado seu talento com o desenho para difundir conhecimento e manter a herança cultural carregada pelos descendentes de italianos que vivem, principalmente, no Sul do país.

Desde criança ela teve contato com essa cultura refletida no dia a dia de seus pais e nonos (avós). Com o passar do tempo, foi se interessando cada vez mais pela história dos seus familiares de gerações anteriores, vindos da região do Vêneto.

Paralelamente, também aprimorava suas técnicas em ilustração, tendo se formado em design gráfico e se especializado em design experiencial, sempre alimentando a vontade de criar um projeto em que pudesse unir suas duas paixões — a cultura italiana e o desenho —, para ajudar a difundir e valorizar a história desse povo.

A primeira revista em quadrinhos

Em 2020, Cidiane lançou sua primeira revista em quadrinhos: “I Fioli de la nostra tera” , que quer dizer “Os filhos da nossa terra”, na qual retrata a imigração vêneta no Sul do Brasil. A obra tem 92 páginas e está escrita em vêneto (dialeto italiano), com tradução para o português.

Esse trabalho repercutiu na comunidade ítalo-brasileira e levou a quadrinista a conhecer a Itália, mais especificamente o Nordeste do país, onde seus antepassados viveram, além de receber o reconhecimento de autoridades e do governo local, e de ganhar espaço na imprensa italiana.

— Essa obra literária me levou a conhecer muita gente e descobrir mais sobre as histórias, a cultura e o porquê aconteceu a imigração italiana. E também me levou a finalmente realizar um sonho que eu tinha que era de fazer um lançamento oficial na terra onde nasceram os meus antenatos, que é Valdobbiadene — conta Cidiane.

A concordiense pôde apresentar seu trabalho a diversas autoridades italianas e lançá-lo oficialmente nas cidades de Valdobbiadene e Sercedo. Na região do Vêneto ela esteve com cinco prefeitos, depois conheceu o Palazzo Ferro-Fini – edifício histórico de Veneza, onde conversou com o conselheiro e o presidente do Vêneto. Por fim conheceu, ainda, o parlamento de Roma.

— Quando eu estava lá na Itália, na cidade dos meus antenatos, eu me senti na minha própria casa. Eu não senti nenhuma diferença daqui de onde eu moro, aqui em Concórdia, e de lá de Valdobbiadene. Senti que estava realmente voltando para casa depois de 141 anos que a minha família chegou no Brasil. Eu sou da quarta geração e voltei para a casa deles sem esquecer de toda essa cultura, dessa história que eles trouxeram e que também vive presente em mim — relembra.

Segunda revista

A viagem à Itália aconteceu em abril de 2023 e a inspirou no desenvolvimento da segunda revista, lançada no mesmo ano, e que ela já vinha construindo desde 2022. Uma história novamente baseada nos imigrantes italianos, incluindo sua própria família, mas desta vez voltando um pouco mais ao passado.

Em “I Figli della nostra terra” – Un ritorno alle origini, escrita em italiano, com tradução para o português, Cidiane conta a história da vinda de uma família camponesa que vivia na região do Vêneto para o Sul do Brasil, no século XIX, buscando refazer o caminho desses imigrantes.

A obra tem 116 páginas e retrata diversos aspectos culturais e históricos de pessoas que viviam naquela região, assim como as dificuldades que enfrentavam, até a decisão de partir para o Brasil, levando consigo o desejo de ter terra, viver do trabalho e construir uma vida melhor.

Cidiane quer, agora, retornar à Itália em 2025 para realizar o lançamento de sua segunda história na terra de origem da sua família. Seu trabalho é totalmente autoral, da criação da história à ilustração, e realizado com recursos próprios.

Detalhe das capas

Filha de agricultores, Cidiane aprendeu desde cedo o trabalho na roça, inclusive com o cultivo de uvas para a produção de vinho, uma tradição passada de geração em geração dentro da família dela, assim como de outras de origem italiana.

— Tínhamos um parreiral de uva e na minha infância eu ajudava meus pais a colher as uvas e fazer o vinho com os pés — conta.

A fruta tem destaque na capa de suas revistas. Na primeira, aparece na cor roxa, fazendo referência à variedade de uva Isabel, cultivada pela família no Brasil. Na segunda, os grãos são verdes, em referência a variedade de uva branca Prosecco, ou Glera, comum na região do Vêneto.

Conhecimento levado adiante

Além da elaboração e publicação das revistas, Cidiane também mantém um projeto em que leva às escolas catarinenses e gaúchas oficinas e palestras sobre a “Imigração italiana: arte, cultura e história”. Ainda, nas suas redes sociais é possível conferir outras ilustrações que valorizam a cultura local da sua região e ajudam a manter a herança cultural de seus antepassados.

— Foi um trabalho que eu tive uma longa caminhada de muitas descobertas e aos pouquinhos eu fui construindo, fazendo acontecer e chegando a cada pessoa, falando sobre a importância da história e da cultura local que existe em cada lugar — diz Cidiane.

 

NSC

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