“Embora estas bactérias sejam tipicamente inofensivas, elas podem causar doenças sérias se entrarem no corpo através de feridas abertas, que são mais comuns em hospitais”, segundo Mohammed.
Os hospitais são uma rica fonte de dados porque eles levam a higiene a sério. As roupas de cama e os travesseiros são lavados entre um paciente e outro.
Em 2018, cientistas da Universidade de Ibadan, na Nigéria, encontraram E. coli em roupas de cama de hospitais não lavadas , além de outras bactérias patogênicas conhecidas por causarem infecções urinárias, pneumonia, diarreia, meningite e sepse.
Roupas de cama sujas representam um risco real de infecção nesses ambientes.
Acredita-se que, em 2018, um profissional de assistência médica britânico tenha contraído a doença ao ser exposto ao vírus durante a troca das roupas de cama de um paciente.
Os hospitais precisaram instituir procedimentos rigorosos para limitar a transmissão, pelo menos nos países mais desenvolvidos.
“Os hospitais lavam as roupas de cama em temperaturas muito altas, o que mata a maior parte das bactérias”, afirma o professor de doenças infecciosas e saúde global David Denning, da Universidade de Manchester, no Reino Unido.
Mas existe uma exceção, que é a bactéria C. difficile . Ela causa diarreia, especialmente em idosos . Segundo Denning, a lavagem dos lençóis pode destruir até a metade das bactérias C. difficile , mas seus esporos são difíceis de matar.
Ainda assim, os índices de infecção por C. difficile diminuíram no Reino Unido, o que indica que os procedimentos padrão de lavagem nos hospitais, quando seguidos corretamente, são suficientes para manter muito baixo o risco de transmissão.
É claro que é mais provável encontrar bactérias patogênicas nas roupas de cama dos hospitais, onde dormem pessoas doentes, do que entre pessoas saudáveis. Mas o que acontece nos travesseiros e roupas de cama comuns em nossas casas?
Em 2013, a empresa de camas norte-americana Amerisleep divulgou ter retirado amostras de uma fronha que não havia sido lavada por uma semana. Ela continha cerca de 465 mil bactérias por centímetro quadrado – cerca de 17 mil vezes mais do que a média dos assentos sanitários.
Em 2006, Denning e seus colegas coletaram seis travesseiros de amigos e familiares. Eles estavam em uso comum e tinham 18 meses a 20 anos. Todos eles continham fungos , especialmente da espécie Aspergillus fumigatus , normalmente encontrada no solo.
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Legenda da foto, Os lençóis e travesseiros que ficam úmidos com o suor oferecem um ambiente perfeito para o desenvolvimento de fungos e bactérias
“Em termos de números, estamos falando em bilhões ou trilhões de partículas fúngicas em cada travesseiro”, segundo Denning.
“Achamos que o motivo por que encontramos tantos [fungos] é porque a cabeça da maioria de nós sua durante a noite. Todos nós também temos ácaros nas nossas camas e as fezes do ácaro da poeira fornecem alimento para o fungo sobreviver.”
“E, é claro, o travesseiro é aquecido todas as noites, já que a nossa cabeça repousa sobre ele. Por isso, você tem umidade, você tem alimento e você tem calor”, explica ele.
Como a maioria de nós raramente lava os travesseiros, os fungos permanecem em um estado razoavelmente tranquilo e podem sobreviver por anos. Eles só são perturbados quando afofamos os nossos travesseiros, o que pode liberar esporos fúngicos no quarto.
Mesmo se os lavarmos, os fungos podem sobreviver sob temperaturas de até 50 °C. E, de qualquer forma, a lavagem aumenta a umidade dos travesseiros, permitindo que os fungos se desenvolvam ainda mais.
Considerando o tempo que as pessoas passam dormindo e a proximidade entre o travesseiro e a boca, esta descoberta traz consequências importantes para pacientes com doenças respiratórias, especialmente asma e sinusite.
Até a metade das pessoas com formas graves de asma sofre de alergia a Aspergillus fumigatus . E a exposição ao fungo também pode causar doenças pulmonares crônicas em pessoas que já tenham sofrido tuberculose ou doenças pulmonares relacionadas ao fumo.
Segundo Denning, 99,9% dos indivíduos com sistemas imunológicos saudáveis podem enfrentar facilmente a inalação de esporos fúngicos de A. fumigatus . Mas, em pessoas imunocomprometidas, o fungo pode superar as defesas enfraquecidas do hospedeiro e causar infecções potencialmente mortais.
“Se você tiver leucemia, se houver passado por um transplante de órgãos, ou tiver a infelicidade de ir para a UTI com covid ou influenza, você pode ter a chamada aspergilose invasiva, que ocorre quando o fungo simplesmente entra nos pulmões e se desenvolve, destruindo o tecido pulmonar”, explica Denning.
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Legenda da foto, Deixar que animais de estimação durmam na cama pode aumentar a quantidade de bactérias nos lençóis e fronhas
Mas, se lavar os travesseiros não adianta, o que podemos fazer?
Para Denning, se você não tiver asma, condições pulmonares ou sinusite, deve considerar a troca do seu travesseiro a cada dois anos. Mas as pessoas que sofrem dessas condições devem comprar um travesseiro novo a cada três a seis meses.
Já quanto à frequência de lavagem das roupas de cama, a maioria dos especialistas recomenda que ela seja feita semanalmente. E passar a ferro, além de lavar, também reduz a quantidade de bactérias dos lençóis.
“Se você tiver tempo sobrando, pode passar cuidadosamente todos os seus lençóis”, segundo Denning, “mas todos nós temos bactérias no corpo, de forma que [para uma pessoa saudável] isso realmente não importa.”
“Mas, se você for doente e vulnerável, passar pode ser mais importante e, se você tiver uma criança que molhe a cama, sem dúvida é preciso ser um pouco mais criterioso na hora de lavar e usar altas temperaturas na lavagem.”
Ter um animal de estimação dormindo na cama também aumenta a quantidade de fungos e bactérias. O mesmo acontece se não tomarmos banho antes de dormir, se formos para a cama com meias sujas ou se dormirmos com loções ou maquiagem na pele. E ainda não falamos no café da manhã ou lanche noturno na cama.
“Não estou dizendo que ninguém deveria comer na cama, mas acho que, se você comer, é importante lavar os lençóis com bastante frequência”, explica Denning.
“E acho, honestamente, que uma vez por semana pode não ser suficiente.”