As crianças – e adultos – autistas costumam se comunicar de forma diferente das pessoas neurotípicas.
As principais características da fala autista podem incluir pouco contato visual, concentração nos detalhes e não na essência geral da conversa e valorização do significado literal – as pessoas autistas podem ter dificuldade de entender se algo está implícito e não diretamente expresso.
Estas diferenças podem dificultar parte da comunicação entre as crianças autistas e os adultos ao seu redor. Mas compreender as dificuldades pode ajudar.
Minha pesquisa, em conjunto com meus colegas, explorou como as crianças autistas e neurotípicas imitam a fala dos pais durante uma conversa.
A imitação é um aspecto da linguagem e da comunicação que começa ao nascer. Quando as pessoas falam entre si, elas costumam repetir o que as outras dizem, refletir seus gestos, alinhar seu tom de voz e até mesmo seu sotaque.
Isso ocorre como um processo de aprendizado, mas também para nos adaptarmos socialmente. O processo demonstra engajamento, sinalizando aos participantes da conversa que eles estão sendo ouvidos e compreendidos.
O tipo de imitação que procuramos é conhecido como “ressonância”. Ele envolve a reutilização da fala dos demais durante uma conversa.
Imagine que eu pergunte “você teve um bom fim de semana?” e você responda “sim”. Este é um caso em que não há ressonância na sua resposta. Você responde a minha questão, mas não se envolve com as minhas palavras.
Mas, se você tivesse respondido algo como “tive um fim de semana bastante interessante, na verdade, viajei para Paris”, você teria “ressoado” diversas palavras da minha pergunta (como “fim de semana”, “tive”) e se envolvido criativamente com elas (substituindo “bom” por “interessante”).
Falar imitando
Na nossa pesquisa, procuramos esta forma de imitação entre as crianças e suas mães. Ao todo, nosso estudo envolveu 180 crianças falantes de mandarim, com 37 a 60 meses de idade (aproximadamente, de três a cinco anos).
Incluímos crianças neurotípicas e neurodiversas e procuramos suas imitações verbais – como elas reutilizavam e reformulavam espontaneamente as palavras ditas para elas. E concluímos que as crianças autistas foram muito menos propensas a fazer uso deste tipo de imitação.
Um exemplo da nossa pesquisa é uma mãe que abre um livro e diz: “A raposa estava tão assustada que saiu correndo.” Sua filha neurotípica ressoou a frase e se engajou com suas palavras: “Ela estava tão assustada e saiu correndo rapidinho.”
Mas este tipo de imitação verbal era mais raro entre as crianças autistas. Elas reutilizaram as palavras dos seus pais com muito menos frequência e criatividade.