O que deveria ser um dos momentos mais felizes de uma mãe se tornou um dos maiores pesadelos de sua vida. Tudo começou no parto, dia 14 de julho, quando a mãe, que não terá o nome divulgado para preservar o seu direito, foi ter sua filha na maternidade Darcy Vargas, em Joinville, no Norte de Santa Catarina.
O bebê teve o couro cabeludo cortado durante o parto, que já era de risco. Isso porque a mãe vive com HIV, e teve complicações no procedimento.
Após a ferida aberta, segundo a mãe, a criança não foi tratada como deveria. A pequena bebê recebeu um ponto na cabeça, mas a mãe conta que os profissionais não limparam corretamente o local da ferida. Depois, mãe e filha foram mandadas para casa.
A volta para o hospital
Mesmo em casa, a ferida da criança não fechava, segundo a mãe. Foi então que ela voltou a buscar atendimento médico na cidade. Após passar por um posto de saúde, a mãe foi encaminhada para o Hospital Infantil Dr. Jeser Amarante Faria, também em Joinville.
“Comecei a notar que ela tinha também pequenas bolinhas pelo corpo e achei estranho. Foi então que levei ao médico”, conta.
Ao chegar no Infantil a criança foi avaliada por neurologistas, que fizeram exames específicos e constataram uma infecção na criança. Segundo os médicos, não há certeza de que a frágil vida vá sobreviver.
Desde o dia 27 de julho a criança está na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do Hospital Infantil.
“No hospital [Infantil] falaram que o corte infeccionou porque não tinham raspado ali. Tinha cabelo, sujeira, tudo se misturou”, disse a mãe, que contou ter levado a filha para atendimento com um neurologista.
O ND+ teve acesso ao laudo dado pelo médico que atendeu a criança no Hospital Infantil, atestando a infecção. Por conta do corte, foi preciso realizar uma cirurgia de emergência para conter a infecção.
“Risco alto para meningite. Risco de sequelas neurológicas e morte”, descreve o laudo.
Com voz de choro a mãe declara: “eles precisam investigar, para que isso não aconteça com outras mães”.
A delegacia
O caso foi registrado na Delegacia de Proteção à Criança, Adolescente, Mulher e Idoso de Joinville. A informação foi confirmada pelo delegado Eduardo de Mendonça, que atua no local.
Segundo ele, até o momento foram ouvidos os familiares da criança, mas nos próximos dias dois médicos responsáveis pelo atendimento à mãe e a bebê serão ouvidos pelos policiais.
O que diz a SES
Em nota a maternidade declarou que:
A direção da Maternidade Darcy Vargas esclarece que no caso citado, ocorreu uma intercorrência no momento da cesária. O paciente foi atendido e segue internado recebendo os cuidados médicos no Hospital Jeser Amarante Faria. A Maternidade Darcy Vargas informa ainda que o evento está em investigação pela Gestão de Risco da unidade, buscando identificar se houve alguma falha na conduta tomada durante o parto.
Violência obstétrica está relacionada com a cor da pele
Em abril, a Comissão Especial sobre Violência Obstétrica e Morte Materna debateu o tema com representantes de todo o país, entre eles, a secretária de Saúde de Santa Catarina, Carmen Zanotto.
“As mulheres negras morrem mais que as brancas, mesmo tendo a mesma escolaridade e o mesmo acesso ao pré-natal. Está comprovado que nós profissionais da enfermagem dedicamos menos tempo na assistência pré-natal à mulher negra que à mulher branca”, disse na época.
O caso da mãe relatada nesta matéria, que é uma mulher negra, soma-se a uma infinidade de mulheres negras que sofreram violência obstétrica no Brasil. Só para se ter uma ideia, um estudo publicado na Biblioteca Nacional de Medicina relaciona o racismo ao atendimento médico dado às mulheres negras no país.
“No Brasil, mulheres negras são desproporcionalmente negadas ao acesso a cuidados oportunos e ficam vulneráveis à morte por causas obstétricas evitáveis. No entanto, elas não têm estado no centro de iniciativas recentes para melhorar a saúde materna”, descreve o estudo.
Para realizar a pesquisa, os pesquisadores analisaram a implantação da Rede Cegonha na Bahia entre 2012 e 2017.
Fonte: Michel Teixeira