A maioria dos adultos nunca precisou fazer um teste de QI. Mas testes para avaliar habilidades cognitivas de estudantes, como o teste de capacidade cognitiva (CAT), são usados em escolas de várias partes do mundo — e são muito semelhantes aos testes de QI. Fazê-los pode ser difícil para as crianças, mas talvez ainda mais difícil para os pais.
Coloque-se, só por um momento, no lugar de um pai cujo filho recebe uma pontuação geral no CAT abaixo da média. Uma batelada de perguntas desagradáveis pode surgir em sua cabeça. Isso significa que não entrará em uma universidade de ponta? E a carreira?
Algum tempo depois de tanto ruminar ideias, outro pensamento pode surgir. Se o desempenho nesses testes importa, é possível melhorá-lo da mesma forma que melhoramos em qualquer outra coisa, ou seja, pela prática?
A ciência revela que, seja você uma criança ou um adulto, é possível melhorar seu desempenho em testes cognitivos. Mas isso não o tornará mais inteligente.
Os testes padronizados têm uma longa história na educação e às vezes também são usados por empresas como etapa de processos seletivos. O exemplo mais notável é, provavelmente, o exame do serviço civil chinês. Essa avaliação extremamente difícil foi introduzida durante a dinastia Sui (581–618 d.C.) para selecionar os candidatos para a burocracia imperial, um trabalho de alto prestígio.
Não mudou muita coisa. Assim como a China imperial, hoje em dia, instituições de educação do mundo todo testam alunos em uma variedade de habilidades, incluindo conhecimento de disciplinas e habilidades cognitivas. Nos EUA, os exames SATs são usados para filtrar as inscrições em universidades de prestígio. Testar alunos em disciplinas como matemática, alfabetização e ciências faz tanto sentido hoje quanto há 14 séculos.
É uma maneira de determinar se os alunos estão aprendendo as habilidades necessárias para serem cidadãos cultos, responsáveis e produtivos. Menos óbvio, e mais controverso, é o que os testes cognitivos escolares trazem à mesa.
Testes cognitivos são geralmente um conjunto de tarefas que avaliam uma variedade de capacidades intelectuais. Por exemplo, a versão mais recente do CAT mede quatro habilidades cognitivas: raciocínio verbal, raciocínio não verbal, raciocínio quantitativo e raciocínio espacial.
Aqueles que se saem bem em uma tarefa cognitiva específica têm mais chance de se sair bem em outras tarefas cognitivas. As tarefas cognitivas são, portanto, vinculadas umas às outras e não exploram o conhecimento adquirido. E a capacidade mental geral para resolver problemas intelectuais desconhecidos e não relacionados a um assunto é o que chamamos de inteligência.
A pontuação em um teste cognitivo abrangente é geralmente chamada de QI. Mas as pontuações de QI são apenas indicações da inteligência das pessoas. Crucialmente, essas pontuações estão intimamente ligadas ao desempenho acadêmico.
Na verdade, o QI é de longe o melhor preditor de desempenho acadêmico e um importante preditor de sucesso profissional. O teste cognitivo é, portanto, uma maneira útil e bastante confiável de prever resultados na vida real.
Prática leva à perfeição, não à inteligência
Um bom desempenho em testes cognitivos é um sinal de inteligência. E ser inteligente é útil para atingir objetivos na vida.
O desempenho em testes cognitivos melhora com a prática. Por exemplo, um estudo descobriu que fazer um teste comum de raciocínio não verbal duas vezes aumenta as pontuações em aproximadamente o equivalente a oito pontos de QI.
Assim, é provável que uma criança que faz um teste como o CAT pela segunda vez tenha um desempenho melhor do que na primeira vez. Várias rodadas de testes repetidos produzem efeitos semelhantes ou até maiores em vários testes cognitivos, mas um platô é, claro, esperado.
Da mesma forma, quando adultos fazem o mesmo teste de inteligência várias vezes, eles podem melhorar seu desempenho ao aprender a lógica por trás das perguntas. Por esse motivo, testes padronizados não estão disponíveis publicamente.
Ainda assim, melhorar sua pontuação através da prática não provaria que sua inteligência cresceu. Como visto, testes cognitivos foram projetados para medir a inteligência expondo as pessoas a novos materiais e situações.
Se você tiver a oportunidade de se familiarizar com um teste cognitivo com antecedência, a pontuação do teste irá, até certo ponto, medir sua habilidade para realizar o teste, em vez de sua inteligência. Ou seja, praticar um teste cognitivo essencialmente torna os resultados do teste não interpretáveis.
Para apoiar a afirmação de que o treino em tarefas cognitivas específicas torna as pessoas mais inteligentes, você precisa mostrar que as pessoas apresentam melhorias em tarefas cognitivas e acadêmicas não relacionadas às tarefas treinadas.
A ideia de aumentar a inteligência treinando tarefas cognitivas tem pelo menos algumas décadas. No entanto, as evidências apontam na direção contrária. Enquanto as pessoas melhoram consistentemente em tarefas treinadas (ou tarefas semelhantes), não há efeito em tarefas não familiares relacionadas à inteligência.
Treinar seu filho para que ele tenha um bom desempenho no CAT ou em qualquer outro teste cognitivo pode ter motivos práticos. Por exemplo, algumas escolas seletivas no Reino Unido usam o CAT em seu processo de seleção. Pode ser um impulso para a confiança da criança também.
Dito isso, a inteligência não pode ser treinada.
Ainda assim, habilidades acadêmicas e de trabalho podem. Embora inteligência elevada seja uma vantagem significativa, o sucesso escolar e profissional não depende inteiramente dela. Trabalho duro, classe social, personalidade, curiosidade, criatividade e até mesmo sorte frequentemente têm um grande efeito nas vidas individuais.
* Giovanni Sala é professor da área de Psicologia na Universidade de Liverpool e Fernand Gobet é Professorial Research Fellow da London School of Economics and Political Science.
Este artigo foi publicado originalmente no site de notícias acadêmicas The Conversation e republicado sob licença Creative Commons. Leia aqui a versão original em inglês.
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