Entre o fim do mês de março e esta terça-feira (4) um enorme dirigível surpreendeu moradores ao passar pelo céu de diversas cidades de Santa Catarina. Esta, porém, não foi a primeira vez que um dirigível causou espanto nos catarinenses. Na década de 1930, o governo alemão utilizou deste meio de transporte para propaganda nazista.
Era julho de 1934 quando um grande dirigível decorado com a suástica nazista atraiu os olhares de Joinville. “O dirigível causou estranhamento, [as pessoas] nunca tinham visto um troço daquele céu, era enorme, maior que um avião. Monstruoso no céu, com cerca de 200 metros de comprimento”, conta o historiador e coordenador do Arquivo Histórico de Joinville, Dilney Cunha.
“Os dirigíveis eram imensos, prateados, brilhavam ao sol, super iluminados à noite. A aviação internacional com aeronaves mais pesadas do que o ar (aviões) estava engatinhando ainda, com hidroaviões. As cidades paravam para ver os dirigíveis, políticos e líderes empresariais disputavam a possibilidade de tê-los passando por suas cidades. Era visto como um sinal ‘inequívoco’ de prestígio, de ‘progresso civilizatório’. Mas, mais do que isso, era um grande espetáculo”, explica Charles Narloch, tecnologista e pesquisador do MAST (Museu de Astronomia e Ciências Afins), do Rio de Janeiro, que citou em sua tese de doutorado a era dos dirigíveis no Brasil.
Dilney conta que a intenção, na época, era a propaganda alemã de um país que, após a derrota na Primeira Guerra Mundial (1914-1918), se reergueu e que conquistava novamente o prestígio.
A partir de 1933, então, todas as aeronaves alemãs passaram a ser identificadas com a suástica em seu leme direito e os dirigíveis passam a ser frequentemente utilizados para a propaganda nazista. “O Hindenburg [outro dirigível alemão], por exemplo, foi utilizado para sobrevoar o Estádio Olímpico de Berlim, na abertura dos Jogos Olímpicos de 1936”, comenta Charles.
Tanto o Graf Zepelin quanto o Hinderburg passaram por cidades de Santa Catarina como Joinville, Blumenau e São Francisco do Sul, por exemplo, e ambos com símbolos nazistas. A escolha pelos municípios catarinenses também não foi por acaso, aponta o historiador joinvilense. A grande influência da colonização alemã foi um dos motivos para que o dirigível passasse por Santa Catarina, além da existência de simpatizantes do regime na região.
“Vão ter muitos apoiadores e simpatizantes do nazismo na cidade [de Joinville]. Jornais da época elogiavam o regime, que ele [Hitler] tinha recuperado a Alemanha, sentindo orgulho. Isso já com as perseguições aos judeus, já tinham consciência que o nazismo era um regime totalitário e discriminatório. Não há estatística que aponte se era maioria [das pessoas] ou não, mas parte da população simpatizava, sendo alemão ou não, sendo descendente ou não”, comenta Dilney.
O historiador conta que, no início, a reação das pessoas ao ver o dirigível foi de espanto, mas depois, de surpresa e empolgação. “Foi um entusiasmo, os dirigíveis alemães, a grandiosa Alemanha. E era esse o o objetivo da Alemanha nazista. Por que passaram por aqui? Por ser região de influência germânica”, diz.
Fonte: ND+