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‘Ela estava brincando quando foi atingida’: a menina libanesa de 6 anos que luta pela vida após bombardeios israelenses

 

Nas colinas do Vale do Bekaa, assim como em grande parte do Líbano, a morte pode vir do céu a qualquer momento.

Israel tem bombardeado a região durante o dia todo, tendo desferido mais de 30 ataques aéreos em apenas uma hora.

Até agora, foram confirmadas as mortes de 46 pessoas — e a expectativa é de que este número aumente.

Outras pessoas estão em estado grave no hospital, após os bombardeios da última semana.

Entre elas, está Noor Mossawi. A menina de seis anos está inconsciente em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) pediátrica, no Hospital Rayak, com a cabeça enfaixada devido a uma fratura no crânio.

Sua mãe, Rima, está sentada ao lado do seu leito, segurando um exemplar do Alcorão e rezando.

Ela nos conta que a filha é muito inteligente e bastante sociável.

“Ela cria um clima muito divertido. A casa parece vazia quando ela não está por perto. Ela adora conhecer gente nova.”

Tudo isso mudou na segunda-feira (23/9) passada, após um bombardeio israelense.

Rima nos mostra um vídeo da filha orando, pouco antes do ataque.

“Eu a estava acalmando, dizendo para não ter medo, que não iria acontecer nada. Ela estava pedindo ajuda a Deus e aos profetas”, diz Rima.

Quando o bombardeio estava se aproximando, Rima estava agachada na porta da frente com Noor e seu irmão gêmeo, Mohammed.

“Não fomos corajosos o suficiente para entrar”, diz ela, “porque achamos que o prédio desabaria sobre nós se fosse atingido”.

“Quando ficou mais intenso, peguei Noor e o irmão, e estava prestes a levá-los para dentro, mas o míssil foi muito mais rápido do que eu.”

Este míssil deixou Mohammed com ferimentos leves, e Noor lutando pela vida.

Noor e seu pai, Abdallah, no Hospital Rayak, no Vale do Bekaa, no Líbano. A menina está deitada no leito com a cabeça enfaixada, e os olhos fechados. De pé ao lado da cama, o pai gesticula apontando para a filha

Enquanto conversamos, de repente surge uma ameaça sobre nós. Ouvimos um avião e, em seguida, uma explosão que sacode as janelas e derruba a energia elétrica por alguns segundos

É outro ataque aéreo. Rima mal reage.

O pai de Noor, Abdallah, chega para visitá-la — ele está furioso.

“Por favor, filme minha filha”, ele diz.

“Ela não sabe o que são armas. Ela não sabe lutar. Ela estava brincando em casa quando o bombardeio começou. Eles [Israel] queriam aterrorizar as pessoas, para que fujam.”

Israel diz que os ataques têm como alvo bases do Hezbollah, incluindo depósitos de armas e munições.

Abdallah discorda.

“Não temos nada a ver com armas. Não estou envolvido com a resistência [Hezbollah]. Mas agora gostaria de estar para poder proteger os meus filhos”, diz ele.

Minutos depois, alguns andares abaixo, as sirenes tocam enquanto uma ambulância traz os feridos do último ataque.

A equipe médica está correndo de um lado para o outro. O pronto-socorro é tomado por tensão. Há gritos de raiva, amigos e parentes chocados. Somos solicitados a parar de filmar.

Basil Abdallah, de barba e cabelo preto, usando um jaleco branco com estetoscópio pendurado em volta do pescoço, no hospital.

Crédito,Goktay Koraltan / BBC

Legenda da foto,O médico Basil Abdallah diz que “a maioria dos enfermeiros e médicos estão deprimidos” no hospital

O hospital recebeu 400 vítimas de ataques israelenses desde segunda-feira passada (23/9) — todas civis —, de acordo com Basil Abdallah, o diretor médico da unidade.

Destas, mais de 100 morreram, e várias famílias perderam mais de uma pessoa.

Abdallah nos diz que há trauma entre os funcionários, e também entre os pacientes.

“Ver crianças bombardeadas, ver pacientes idosos e mulheres bombardeadas é difícil”, ele afirma. “A maioria dos enfermeiros e médicos está deprimida. Temos sentimentos. Somos seres humanos.”

A maior parte da equipe permanece no hospital 24 horas por dia, uma vez que é muito perigoso arriscar voltar para casa.

Israel está atacando por toda parte no Líbano. Não há ninguém para impedir.

Por enquanto, o Hezbollah está travando uma luta limitada, disparando foguetes em direção ao outro lado da fronteira.

Irã, seu aliado, permanece à margem.

Abdallah já está preocupado com a falta de medicamentos e suprimentos essenciais.

Ele teme que esta seja uma longa guerra.

bbcnews

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