Biofertilizantes naturais impulsionam a produção agrícola, enquanto o cultivo de peixes em cavas reaproveitadas redefine a piscicultura no Estado
O agronegócio é um dos pilares de Santa Catarina, contribuindo com 30% do PIB do Estado. Entre as atividades em expansão, destaque para a criação de tilápias em cavas e o cultivo de macroalgas, que estão transformando o setor. Antes limitadas às águas, as macroalgas agora ganham protagonismo na produção agrícola, impulsionando colheitas e abrindo novas oportunidades para o desenvolvimento do agro catarinense.
Uma cadeia produtiva em constante evolução. O que antes era apenas uma promessa agora se torna realidade: as macroalgas conquistam espaço e melhoram a produção agrícola em Santa Catarina.
Do mar para o campo, elas se destacam como biofertilizantes 100% naturais, revolucionando a agricultura catarinense. Em São Pedro de Alcântara, a 35 km da capital, essa inovação já está criando raízes. Os resultados aparecem tanto no solo quanto na economia local, com produtores adotando novas tecnologias e aumentando a produtividade a cada safra.
Os benefícios das macroalgas
A macroalga não apenas fortalece as plantas, mas também reduz custos e aumenta a eficiência da produção agrícola. Além disso, contribui para a durabilidade dos alimentos: produtos como alface, que muitas vezes chegam ao mercado e se deterioram rapidamente, passam a ter um aumento de três a quatro dias no tempo de prateleira.
O biofertilizante produzido a partir da macroalga pode ser até três vezes mais econômico em comparação a produtos biológicos convencionais. Essa inovação atende à crescente demanda dos consumidores por alimentos mais seguros e em conformidade com padrões de qualidade.
A validação do extrato em diferentes culturas do agronegócio catarinense foi a primeira etapa desse processo. Registrado no Ministério da Agricultura como fertilizante orgânico, o produto conta com protocolos de aplicação ajustados às necessidades específicas de cada cultura, garantindo maior eficiência e rendimento.
Com isso, a principal intenção é elevar a produtividade no campo, beneficiando tanto os produtores quanto os consumidores finais, que recebem alimentos de melhor qualidade e com maior segurança alimentar.
Pesquisas da Epagri demonstraram que a macroalga Kappaphycus alvarezii desempenha um papel significativo na captura de dióxido de carbono da atmosfera, contribuindo para o combate ao efeito estufa. Com a expansão das fazendas marinhas em Santa Catarina, estima-se que o cultivo seja capaz de sequestrar mais de 2.500 toneladas de carbono por ano. Atualmente, mais de 50 produtores no Estado já aderiram a essa iniciativa, reforçando seu potencial ambiental e econômico.
Um dos grandes desafios dessa atividade tem sido o desenvolvimento de maquinários para o beneficiamento, especialmente diante do aumento da demanda. Enquanto isso, o plantio das mudas para a nova safra já está em andamento, consolidando uma revolução verde que conecta o mar e a terra em uma cadeia produtiva sustentável.
Esse modelo pode ser um diferencial estratégico para o agronegócio catarinense, que se caracteriza pela agricultura familiar em pequenas propriedades. Com acesso a um produto de custo mais baixo, os produtores conseguem aumentar a rentabilidade, reduzir despesas e ampliar a produção, impulsionando o desenvolvimento econômico.
Além disso, essa integração de macroalgas e ciência está construindo um futuro promissor, com alimentos mais saudáveis, resistentes e de maior qualidade, beneficiando tanto o mercado quanto os consumidores.
Inovação sustentável na alimentação de peixes
A inclusão de dietas alternativas à base de macroalgas na alimentação de tainhas está revolucionando a aquicultura, oferecendo uma solução mais sustentável e econômica. Essa abordagem melhora a saúde dos peixes, otimiza a produção, reduz a dependência de rações tradicionais e minimiza os impactos ambientais.
Em tubos de ensaio, entre pós finos e cristais de sal, a macroalga Kappaphycus alvarezii demonstra todo o seu potencial inovador para o setor. No laboratório de análise fisicoquímica do Labcal, localizado no Departamento de Ciência e Tecnologia de Alimentos da UFSC, no Centro de Ciências Agrárias, o mar se transforma em ciência e inovação.
Sob a liderança do professor Giustino Tribuzi, o laboratório se dedica a explorar como cada extração de substâncias abre caminho para novos produtos e alimentos mais saudáveis. O professor destaca que todo alimento que chega à mesa do consumidor precisa ser seguro. Por isso, há anos o trabalho do grupo se concentra em avaliar a segurança dos alimentos, além de propor e sugerir métodos eficazes de higienização e sanificação, garantindo que eles ofereçam benefícios reais ao consumidor final.
Os pesquisadores investigam o grande potencial da macroalga, rica em carragena, antioxidantes e sais minerais, compostos que podem revolucionar várias indústrias. O primeiro produto extraído da alga foi um biofertilizante, mas também existe um subproduto, com alto teor de carragena, antioxidantes e pigmentos, que se destaca como um ingrediente promissor para a indústria alimentícia.
A cada estudo, novos potenciais da macroalga são revelados, mostrando sua estrutura firme e ao mesmo tempo elástica. No laboratório de piscicultura marinha da UFSC, que é pioneiro mundial na reprodução completa da tainha em cativeiro, a macroalga foi incorporada à dieta dos peixes nos últimos 60 dias de cultivo. O resultado foi um impressionante aumento de 20% no peso das tainhas.
Caio Magnotti, do Laboratório de Piscicultura Marinha da UFSC, explica que o uso da macroalga no cultivo de tainhas pode resultar em um ganho de crescimento de 10 a 15% para os peixes, utilizando um recurso que, de outra forma, seria descartado.
Isso não só gera economia em ração, como também torna o processo de cultivo mais eficiente do ponto de vista energético e econômico. Além disso, é possível observar melhorias na qualidade da carne do peixe, com um aumento nos níveis de ômega-3 e ômega-6, substâncias que agregam valor ao filé e contribuem para a saúde da população.
Santa Catarina lidera a produção de tainha no Brasil, mas as grandes oportunidades estão no domínio completo do ciclo de vida da espécie em cativeiro. Desde 2014, a equipe do Lapmar tem aprimorado técnicas de reprodução, tornando possível a produção contínua e escalonada da tainha, garantindo oferta durante todo o ano e, consequentemente, agregando mais valor ao pescado.
A aquicultura possibilita a produção do peixe de forma constante. Embora a desova ocorra entre maio e julho, os peixes podem ser mantidos em tanques, redes no mar ou viveiros escavados com água salgada, como acontece com camarões e tilápias. Isso permite fornecer tainhas durante todo o ano, sem depender da sazonalidade.
Além disso, a pesquisa avança no desenvolvimento de tainhas predominantemente fêmeas, cujas ovas são altamente valorizadas no mercado internacional. Com a combinação entre as redes marinhas e os tanques do laboratório, a tainha ganha novos horizontes, impulsionados pela ciência, mantendo-se uma tradição essencial para a vida e a economia catarinense.
Reaproveitamento de cavas na piscicultura
A criação de tilápias em cavas reaproveitadas está promovendo uma verdadeira transformação na piscicultura no Brasil, com destaque para estados como Santa Catarina, Tocantins e Paraná.
Essa prática não só possibilita a recuperação de áreas alagadas, mas também contribui para a redução de custos com infraestrutura, eleva a produtividade e reduz significativamente o impacto ambiental, o que torna o modelo cada vez mais sustentável.
As antigas cavas de mineração, que se espalham pelo território brasileiro, deixando marcas visíveis na paisagem, agora assumem um novo papel, contribuindo para a requalificação ambiental.
A mineração, embora fundamental para a economia nacional, fornecendo matérias-primas essenciais para setores como a construção civil, a energia, a tecnologia e a indústria, muitas vezes resulta na criação de grandes escavações que, ao longo do tempo, acabam sendo transformadas em lagos artificiais.
Exemplo disso é uma lagoa localizada em uma fazenda em Palhoça, onde a mineração de areia, ao abrir espaço para novas atividades produtivas, uniu a recuperação ambiental com a geração de renda, criando novas oportunidades para a região.
Com o apoio da Epagri, a família Vieira, em Palhoça, está planejando expandir sua produção de tilápias, aumentando o número de tanques-rede e aproveitando ainda mais as cavas existentes, com o objetivo de garantir a venda do peixe ao longo de todo o ano.
Atualmente, eles produzem uma tonelada de tilápia por safra, um processo que leva entre oito e nove meses. Contudo, a expansão da produção não se resume apenas a um investimento financeiro, mas reflete também um compromisso sólido com a sustentabilidade.
Para isso, os produtores têm adotado tecnologias de monitoramento remoto e implementado soluções para reduzir os impactos ambientais, assegurando que sua prática piscícola permaneça alinhada com as melhores práticas de preservação ambiental.
Os testes realizados pelo produtor demonstraram que o peixe produzido na propriedade possui qualidade excepcional. A despesca é realizada quando as tilápias atingem cerca de 800 gramas e, a partir desse momento, o produto é imediatamente encaminhado para uma peixaria em Florianópolis. Em menos de 40 minutos, o peixe chega fresquinho à peixaria na capital, assegurando a qualidade para os consumidores que buscam uma carne saudável e saborosa.
Na região onde está situada a fazenda da família Vieira, cerca de 50 propriedades estão envolvidas na escavação de areia, e o projeto da família se destaca como um exemplo de como a piscicultura pode ser uma solução sustentável para áreas que, de outra forma, ficariam improdutivas.
As cavas, que antes eram marcas da degradação ambiental, estão virando símbolos de um futuro mais promissor, refletindo as possibilidades de recuperação e produção sustentável.
Para saber mais sobre as macroalgas e a aquicultura catarinense, aproveite e assista na íntegra ao episódio do programa Agro, Saúde e Cooperação sobre este tema. O projeto, desenvolvido pelo Grupo ND, tem parceria com a Ocesc, Aurora, SindArroz Santa Catarina, Sicoob e Fecoagro.
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