Acender incenso é um hábito comum para trazer relaxamento e, em algumas religiões, é até utilizado para purificar os ambientes. Embora seja associado ao bem-estar, um estudo da Philadelphia College of Osteopathic Medicine (PCOM) revelou que a fumaça do item apresenta substâncias nocivas, como carbono, enxofre, óxidos de nitrogênio, formaldeído e compostos orgânicos voláteis.
A pesquisa também demonstrou que a queima do incenso libera uma quantidade significativa de partículas finas no ar que, quando comparadas à fumaça do cigarro, são mais tóxicas. Para cada grama queimada, o incenso libera 45 mg de partículas, enquanto o cigarro libera 10 mg.
Incenso está associado a doenças pulmonares
Buscando explorar o resultado da pesquisa e entender os riscos associados ao hábito de acender os incensos, a coluna Claudia Meireles conversou com a pneumologista Ana Luiza Brandao e o médico Vital Fernandes Araújo.
De acordo com os profissionais, a preocupação com os prejuízos relacionados à alta carga de material particulado da fumaça já é estudada há cerca de 15 anos, e as consequências do uso constante estão associadas a doenças de vias respiratórias e, também, ao maior desenvolvimento de câncer.
“O que percebemos é que as partículas finas oriundas do processo de queima dos incensos podem penetrar profundamente os pulmões e se depositar nas pequenas vias aéreas, causando inflamação e aumentando o risco do surgimento de doenças respiratórias e agravamento das condições já existentes, como a asma e DPOC”, alerta Ana Luiza Brandao.
Reação dos compostos no organismo
Como observado pelo estudo da Filadélfia, a fumaça do incenso libera diversos compostos. Segundo os médicos, cada um desses elementos reage e causa diferentes sintomas nos indivíduos. De acordo com Vital Araújo, a substância resultante da fumaça que está associada a maiores riscos para a saúde é o benzedo e alguns hidrocarbonetos policíclicos aromáticos.
Uso de incenso pode agravar condições respiratórias existentes, como a asma
“Existem estudos que comprovam que esses compostos têm um potencial cancerígeno. Então, a exposição pode aumentar o risco de desenvolvimento de câncer de pulmão e também na nasofaringe”, alerta.
O especialista reflete que o formaldeído liberado com a queima dos incensos pode causar desconfortos imediatos, como tosse, espirros e coriza. “A longo prazo, as outras substâncias tóxicas podem ter um efeito inflamatório mais prolongado, piorando o quadro de saúde de pessoas que já possuem alguns quadros de vias respiratórias, como bronquite, por exemplo”, comenta.
Para além de doenças relacionadas às vias aéreas, ambos os profissionais comentam que o uso frequente da resina aromática pode chegar até a corrente sanguínea.
“Esse processo, conhecido como estresse oxidativo, pode danificar as células e contribuir para o desenvolvimento de diversas doenças, desde problemas cardíacos, como a aterosclerose e derrame, até doenças neurodegenerativas”, comenta Vital Araujo.
Risco maior para crianças, gestantes e idosos
Se pensarmos em grupos mais vulneráveis, como crianças, gestantes e idosos, o uso do incenso representa um risco ainda maior. De acordo com a médica Ana Luiza Brandao, em casos em que mulheres grávidas são expostas a esses compostos, podemos observar prejuízos para o bebê que ainda está em desenvolvimento.
“Existe um perigo importante no final da gravidez, que é o risco aumentado de distúrbios hipertensivos, além de níveis mais elevados de pressão arterial. Isso é particularmente preocupante, pois a hipertensão na gravidez está associada a uma série de desfechos adversos”, alerta.
Quando se trata de idosos, a pneumologista revela que o uso constante pode exacerbar condições cardiovasculares da idade. Complementando a visão da especialista, Vital alerta que os mais velhos podem ter uma diminuição natural na capacidade pulmonar, natural da idade.
“Já para as crianças, a gravidade está relacionada ao fato de que as vias aéreas ainda estão em formação. Então, os pequenos ainda são muito sensíveis aos efeitos de qualquer fumaça, inclusive do incenso”, revela.
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