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Pesquisas com colmeias inteligentes e abelhas robôs transformam apicultura sustentável

Nos últimos cinco anos, pesquisadores estudaram e desenvolveram um sistema de coleta de dados para colmeias, com objetivo de melhorar as taxas de sobrevivência das abelhas. Por meio de um sistema inovador, eles buscam transformar a apicultura sustentável.

Dirk de Graaf, chefe do Laboratório de Entomologia Molecular e Patologia de Abelhas da Universidade de Ghent, na Bélgica, recebe um “ping” eletrônico em seu smartphone toda vez que a colmeia apresenta algum problema.

Financiada pela UE (União Europeia), o projeto B-GOOD é uma pesquisa realizada em toda a Europa. Há mais de cinco anos, Graaf e uma equipe formada por 13 pesquisadores passaram a explorar novas tecnologias para manter a saúde das abelhas e a sustentabilidade da apicultura.

As abelhas são cruciais para polinização de plantas. Estima-se que cerca de quatro em cada cinco espécies de culturas e plantas com flores selvagens na Europa dependem, até certo ponto, da polinização por insetos.

Infelizmente, o número de polinizadores selvagens na Europa e no mundo tem diminuído drasticamente devido às impactos ambientais, perda de habitat e uso generalizado de pesticidas.

A Lista Vermelha Europeia aponta que cerca de uma em cada três espécies de abelhas e outros insetos estão ameaçadas.

Sistema de monitoramento auxilia apicultores

Por meio de um sistema criado pelo grupo, é possível identificar problemas em uma colmeia e dar conselhos personalizados ao apicultor sobre como intervir na situação.

Segundo estimativa da UE, em 2021, haviam mais de 615 mil apicultores na Europa. O sistema criado é um aliado potencial crucial para esses trabalhadores.

Como projeto foi desenvolvido

Os pesquisadores criaram um pente digital, um tipo de placa de circuito fina equipada com vários sensores em torno dos quais as abelhas constroem seus pentes.

Diversos deles foram colocados em cada colmeia, transmitindo dados aos pesquisadores e fornecendo monitoramento em tempo real. Em seguida, eles buscaram encontrar a melhor forma para interpretar os dados gerados.

“O desafio era descobrir quais parâmetros contribuem mais para o estado de saúde de uma colônia”, disse de Graaf à Horizon.

Ao longo da pesquisa, foram monitoradas cerca de 400 colônias de abelhas, espalhadas pelos 13 países participantes, o que permitiu construir algoritmos para ajudar a interpretar os dados coletados pelos pentes digitais.

“Acontece que o peso é um bom indicador de se uma colônia sobreviverá no inverno. Usando nossa tecnologia, agora podemos identificar colônias que precisam de intervenção. Isso é então comunicado aos apicultores por meio de alertas personalizados com instruções específicas”, explicou o professor.

Apicultura sustentável com tecnologia avançada

A coleta automática de dados de colmeias desenvolvido pelos pesquisadores já está sendo usada por alguns apicultores, principalmente os mais jovens que são experientes em tecnologia. O objetivo do projeto é promover o uso dessas ferramentas em toda a comunidade apícola, o que permitirá a coleta de dados em maior escala.

O grupo trabalha em colaboração com a EU Bee Partnership, uma plataforma de saúde e gerenciamento de dados de abelhas em toda a UE,  criada em 2017.

As pesquisas em torno do apicultura sustentável por meio da tecnologia seguem até maio de 2027.

Tecnologia criada na Áustria dá suporte à saúde das abelhas

Uma equipe de pesquisadores da Áustria também passou os últimos cinco anos desenvolvendo o uso de tecnologia de ponta para dar suporte à saúde das abelhas. A pesquisa, também financiada pela UE, se chama HIVEOPOLIS, e encerrou em março deste ano.

O professor Thomas Schmickl, professor de zoologia na Universidade de Graz, na Áustria, também passou os últimos cinco anos explorando o uso de tecnologia de ponta para dar suporte à saúde das abelhas como parte de outra iniciativa de pesquisa financiada pela UE, que ocorreu de 2019 a março deste ano.

Thomas Schmickl, professor de zoologia na Universidade de Graz, lidera a equipe de pesquisa. “As abelhas são extremamente poderosas. Se você as apoia, você apoia o ambiente ao redor delas”, disse Schmickl.

Assim como a equipe B-GOOD, os pesquisadores do HIVEOPOLIS desenvolveram um favo de mel digital equipado com sensores. Ao medir temperaturas em diferentes pontos da colmeia, eles podem mapear efetivamente o que está acontecendo lá dentro.

Mas os pentes digitais da HIVEOPOLIS não são apenas sensores, eles podem ser ativados para aquecer certas partes da colmeia, o que, segundo Schmickl, pode fazer uma grande diferença nas taxas de sobrevivência.

“Muitas colônias de abelhas morrem no inverno. Elas precisam de mel para sobreviver, mas às vezes esses estoques estão fora de alcance, então as abelhas morrem de frio tentando alcançá-los”, informou.

Pela primeira vez, é possível mudar a temperatura de dentro do pente, enviando o comando diretamente pela internet. Os experimentos apontaram que as abelhas reagiram de forma positiva às pesquisas realizadas na colmeia.

Abelhas dançantes

Inspirada no trabalho do pesquisador austríaco Karl von Frisch, a equipe do HIVEOPOLIS também investigou o potencial de se comunicar com as abelhas de uma forma inédita.

Em 1973, von Frisch recebeu o Prêmio Nobel por seu trabalho em decifrar a dança do meneio das abelhas, usada por elas para comunicar a localização de fontes de alimento.

Dr. Tim Landgraf, professor de inteligência artificial e coletiva na Freie Universität Berlin, na Alemanha, desenvolveu uma abelha dançante robótica, chamada RoboBee, e forneceu as primeiras indicações de que as elas podem estar dispostas a seguir a liderança de um parceiro digital.

As pesquisas mostram um caminho a ser seguido na apicultura sustentável, preservando a saúde e vida das abelhas por meio da tecnologia.

 

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