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Por que 7 de setembro é teste para liderança de Bolsonaro

 

O ex-presidente Jair Bolsonaro volta à avenida Paulista, em São Paulo, neste 7 de setembro, para comandar novo ato contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, tendo como pano de fundo a divisão de seus apoiadores na eleição pelo comando da maior cidade do país, o que desafia sua liderança nesse eleitorado.

Já em outras capitais do país, a capacidade de Bolsonaro transferir votos em pleitos municipais também está em xeque, segundo analistas entrevistados, dado o desempenho fraco de seus candidatos em cidades como Rio de Janeiro (RJ), Belo Horizonte (MG), Recife (PE) e Campo Grande (MS).

Em São Paulo, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) é o candidato à reeleição apoiado oficialmente pelo ex-presidente e confirmou presença na Avenida Paulista.

Já Pablo Marçal (PRTB), candidato de postura radical e agressiva que tem amealhado boa parte do eleitorado bolsonarista à revelia do ex-presidente, faz mistério sobre sua participação no ato.

Segundo as pesquisas de intenção de voto mais recentes, ambos aparecem embolados com o candidato Guilherme Boulos (PSOL) — apoiado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva — na disputa pelas duas vagas do segundo turno.

Segundo levantamento do Instituto Datafolha divulgado na quinta-feira (5/9), Boulos aparece com 23% das intenções de voto e Marçal e Nunes com 22% cada, indicando um empate triplo, dentro da margem de erro do levantamento.

A pesquisa revelou ainda que Marçal tem o apoio de 50% dos eleitores que se identificam como apoiadores de Bolsonaro, enquanto Nunes aparece com 28%.

Pesquisas, no entanto, são um retrato do momento, o que significa que as intenções de voto podem mudar até a eleição, no dia 6 de outubro.

A expectativa de analistas que acompanham de perto o campo bolsonarista é de um grande ato neste sábado, talvez o maior após os ataques de 8 de janeiro de 2023, quando apoiadores do ex-presidente inconformados com a eleição de Lula invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes, em Brasília.

Em fevereiro deste ano, outro ato convocado por Bolsonaro teve, em seu ápice, um público de 185 mil pessoas, segundo estimativa do Monitor do Debate Político no Meio Digital, da Universidade de São Paulo (USP).

Para esses estudiosos, a recente decisão de Moraes de suspender a rede social X deve alimentar a mobilização para a manifestação, que tem como principais bandeiras a liberdade de expressão, o impeachment do ministro do STF e a anistia dos presos pelos ataques de 8 de janeiro — visto pelo campo bolsonarista como “presos políticos”.

Moraes, que preside inquéritos criminais contra Bolsonaro e seus aliados, tem sofrido desgastes, devido a controvérsias em torno da suspensão do X — depois confirmada pela Primeira Turma da Corte — e do uso do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para a produção de relatórios, solicitados pelo ministro, e que depois embasaram decisões suas no STF, como suspensão de contas em redes sociais e bloqueio de contas bancárias.

O ministro participou da celebração oficial do 7 de setembro pela manhã, em Brasília, ao lado de outros ministro da Corte, como o presidente do STF, Luis Roberto Barroso, e Gilmar Mendes. Todos os ministro foram convidados.

Em um vídeo convocatório divulgado em suas redes sociais, Bolsonaro buscou imprimir um tom suprapartidário ao ato da Paulista, afirmando que qualquer candidato a prefeito simpático às causas poderia comparecer e subir no seu carro de som – uma fala vista como uma espécie de bandeira branca para Marçal após trocas de farpas entre o candidato e a família Bolsonaro há poucas semanas.

O ex-presidente disse, porém, que nenhum pleiteante ao cargo de prefeito poderia discursar, porque a manifestação não seria um “ato político”, mas, sim, um “ato patriótico”.

Os especialistas entrevistados pela BBC News Brasil, por sua vez, entendem que a manifestação será altamente política e servirá de termômetro para os rumos do bolsonarismo.

“Esse ato vai ser uma excelente oportunidade para vermos a força do Marçal no campo bolsonarista”, afirma Pablo Ortellado, professor de gestão de políticas públicas na USP.

Pablo Marçal e Jair Bolsonaro juntos exibindo uma medalha com o rosto de Bolsonaro e a palavra “imbrochável”

Crédito,INSTAGRAM/@PABLOMARÇAL

Legenda da foto,Pablo Marçal recebeu de Bolsonaro, em junho de 2024, uma medalha com a palavra ‘imbrochável’

Ortellado, que tem pesquisado manifestações de rua desde os atos pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff, estará com uma equipe na Avenida Paulista, entrevistando os manifestantes e acompanhando suas reações aos políticos presentes.

“Vamos poder entender melhor o que está acontecendo [na base bolsonarista] e se o Marçal vai conseguir atropelar o próprio Bolsonaro e se impor como o candidato do campo, o que, em grande medida, é uma derrota para o ex-presidente, que tinha feito um acordo com outro candidato [Nunes]”, reforça.

“A partir do momento que ele abriu a possibilidade de Marçal ir ao ato, ele está se conformando com o fato de que o eleitorado dele foi com outro candidato, que não o que ele escolheu”, disse ainda.

A antropóloga Isabela Kalil, coordenadora do Observatório da Extrema Direita, também estará na avenida Paulista pesquisando a manifestação.

“Do ponto de vista de tendência, a rua pode ser um bom termômetro de para onde o bolsonarista está apontando: se seria mais na direção do perfil do Nunes, que tende a algo mais moderado, um bolsonarismo de baixa intensidade, ou na direção do Marçal, que seria um bolsonarismo mais próximo daquilo que a gente conhece na expressão da família Bolsonaro”, analisa.

Tanto Kalil como Ortellado veem o candidato do PRTB como um potencial concorrente do ex-presidente para liderar o campo bolsonarista nas eleições de 2026.

Empresário e influenciador, Marçal tem contas populares nas redes sociais, que usa para se projetar nacionalmente. Ele chegou a tentar disputar a eleição presidencial de 2022, mas foi barrado pelo TSE devido a um racha em seu antigo partido, o Pros.

Nesta eleição, ele está novamente enfrentando percalços na Justiça Eleitoral, por acusações de abuso de poder econômico, com o suposto pagamento de premiação em competições de cortes de vídeos, que buscam viralizar recortes de falas suas. Por causa disso, Marçal teve redes sociais suspensas.

Para Ortellado, o influenciador poderá ter um forte potencial na disputa presidencial de 2026, ainda mais se deixar a eleição de São Paulo barrado pela Justiça novamente.

“Nesse caso, ele não enfrentaria nem o desgaste de uma eventual derrota na eleição municipal, nem o desgaste natural de governar, numa eventual vitória”, analisa.

O cientista político Antonio Lavareda, presidente do Conselho Científico do Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe), também considera que o 7 de setembro na avenida Paulista terá reverberações sobre a disputa pela prefeitura da cidade.

Na sua avaliação, o apoio mais expressivo de Bolsonaro para um dos dois candidatos, Nunes ou Marçal, pode fazer diferença no seu eleitorado. Por outro lado, Lavareda acredita que um cálculo pragmático do eleitor mais conservador pode favorecer o atual prefeito, já que ele aparece nas pesquisas de intenção de voto com mais força para derrotar Boulos em um eventual segundo turno.

Já a agenda oficial do ato, um protesto contra supostos abusos do Supremo, não deve gerar desdobramentos relevantes no momento, acredita o cientista político.

Na sua visão, pautas como limitar mais os poderes dos ministros do STF ou uma tentativa de anistia dos presos do 8 de janeiro podem ganhar mais tração a partir de 2026, caso o próximo Congresso eleito seja ainda mais conservador que o atual.

“Provavelmente, vamos ter um Congresso mais à direita que o atual em 2026. As pesquisas municipais indicam que esse campo está forte, e essas disputas costumam apontar para a direção do Congresso seguinte”, afirma.

Já a deputada Bia Kicis (PL-DF), líder da minoria na Câmara, espera que o ato na Paulista pressione o Congresso agir logo contra o que chama de abusos de Moraes e do STF.

Na sua avaliação, a suspensão do X tem impactos sobre a eleição, porque estaria censurando a direita. Já defensores do bloqueio da rede social ressaltam que ela descumpriu ordens judiciais para apagar conteúdos que configurariam desinformação e ataques à democracia brasileira.

O dono do X, o bilionário Elon Musk, fechou o escritório da empresa no Brasil em 17 de agosto, numa estratégia de dificultar o cumprimento de decisões que ele considera ilegais.

“O ato contra o ministro Alexandre tem tudo a ver com as eleições. Tirou do ar a plataforma porque é a única que não censura os conservadores”, afirma Kicis.

Para além do impacto no Congresso, nota Ortellado, o 7 de setembro também pode ser uma desmonstração importante de força para Bolsonaro, em um momento de desgaste de Moraes. Há expectativa de que o ex-presidente possa ser indiciado na investigação que apura a tentativa de golpe de Estado no 8 de janeiro.

Apoiadores de Bolsonaro seguram um cartaz agradecendo Elon Musk

Crédito,EPA-EFE/REX/Shutterstock

Legenda da foto,Elon Musk se tornou um herói entre bolsonaristas ao afrontar Alexandre de Moraes

Dificuldade de Bolsonaro como cabo eleitoral

Apesar da avaliação dos entrevistados de que o campo conservador aparece forte na eleição municipal, eles notam uma dificuldade de Bolsonaro em alavancar seus candidatos nas capitais.

Segundo levantamento do jornal O Globo a partir de pesquisas recentes do instituto Quaest, candidatos do PL, partido do presidente, só lideram com vantagem mais larga em duas das treze capitais em que a sigla tem candidato próprio: Maceió (AL), em que João Henrique Caldas tenta a reeleição, e em Aracaju (SE), em que a corrida é puxada pela vereadora Emília Corrêa (PL).

Já em Rio Branco (AC), Belém (PA) e Cuiabá (MT), candidatos do PL aparecem empatados com outros candidatos em primeiro lugar.

Por outro lado, em Belo Horizonte (MG), Fortaleza (CE), João Pessoa (PB), Manaus (AM), Rio de Janeiro (RJ), Recife (PE), Vitória (ES) e Goiânia (GO), os nomes da sigla de Bolsonaro estão atrás nos levantamentos de intenção de voto.

Para Isabela Kalil, as pesquisas indicam que o PL não deve alcançar a meta ambiciosa anunciado pelo presidente da sigla, Valdemar Costa Neto, de passar do atual patamar de menos de 400 prefeituras, para 1.500 nesta eleição.

“O PL tinha uma meta muito ambiciosa de se interiorizar numa espécie de onda bolsonarista nos municípios. No entanto, Bolsonaro, aparentemente, não está conseguindo fazer isso”, nota a antropóloga.

“Só que o PT também não está conseguindo. O partido inclusive não está disputando capitais importantes, como São Paulo [em que a sigla decidiu apoiar Boulos, do PSOL]”, ressalta Kalil.

Lavareda também nota que “a nacionalização da disputa não tem se dado com força”.

“Nem Lula nem Bolsonaro imprimem a condução da escolhas eleitorais [nos municípios]. Não estão sendo decisivos nas disputas”, reforça.

Em Belo Horizonte, quem lidera as pesquisas é o deputado estadual e apresentador de TV da Record, Mauro Tramonte (Republicanos). Já o candidato apoiado por Bolsonaro, Bruno Engler (PL), está embolado em segundo lugar com outros candidatos.

Concorrendo por um partido da direita, Tramonte já disse não ter ligações nem com Bolsonaro, nem com Lula, buscando se colocar à parte da polarização nacional.

No Rio de Janeiro, reduto eleitoral de Bolsonaro, seu candidato, Alexandre Ramagem (PL), que presidiu a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) em seu governo, está em segundo lugar nas pesquisas, mas muito distante do primeiro colocado, o atual prefeito, Eduardo Paes (PSD), que parece caminhar para uma reeleição tranquila.

Ex-ministros de Bolsonaro também têm tido desempenho fraco. Gilson Machado (PL), que comandou a pasta do Turismo, aparece com a maior rejeição na disputa pelo Recife, segundo o Datafolha. A capital de Pernambuco caminha para reeleger no primeiro turno João Campos (PSB).

Já Marcelo Queiroga, ex-ministro da Saúde, aparece em quarto lugar em João Pessoa, com apenas 7% em pesquisa Quaest do final de agosto. O favorito na capital paraibana também é o atual prefeito, Cícero Lucena (PP).

Outra cidade que chama atenção é Campo Grande (MS), onde Bolsonaro recebeu 61,5% dos votos na eleição presidencial de 2022. Apesar de sua força lá, seu candidato, Beto Ferreira (PSDB), aparece nas pesquisas empatado no segundo lugar com a atual prefeita Adriane Lopes (PP). Quem lidera a corrida com boa margem é a ex-vice-governadora do Mato Grosso do Sul, Rose Modesto (União).

Em Fortaleza, por sua vez, o cenário é mais embolado. Enquanto pesquisas do Datafolha e da Quaest do final de agosto mostravam como líder o Capitão Wagner (União Brasil), um militar da reserva com apelo no campo bolsonarista, pesquisa de setembro da Atlas Intel já indicava um empate técnico entre quatro concorrentes no primeiro lugar, com o candidato de Bolsonaro, André Fernandes (PL), e o candidato petista, Evandro Leitão, liderando numericamente.

bbcnews

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