BRASÍLIA — “Você acredita em mudança na política?”. Foi uma das perguntas usadas pelo ex-tenente do Corpo de Bombeiros Pedro Aihara (PRD-MG) em um vídeo para pedido voto a deputado federal, em 2022. Aihara se lançou na vida política após ganhar notoriedade como porta-voz do grupo de resgate durante a tragédia de Brumadinho (MG). “Tantas vezes fui o porta voz dessa corporação. Agora eu quero ser seu porta-voz no Congresso Nacional.”
Eleito com 89,4 mil votos, Aihara, o homem que se candidatou trajando o uniforme que costumava aparecer para falar com familiares e com a imprensa durante o incidente na cidade mineira, é o deputado que mais gastou dinheiro da cota parlamentar com alimentação em 2024. Foram mais de R$ 10 mil gastos com comes e bebes em apenas seis meses. O recurso foi usado, inclusive, para tentar comprar bebida alcoólica.
Em um dos pedidos de reembolso, o ex-bombeiro pediu para que a Câmara custeasse cervejas tomadas na orla de Copacabana no Carnaval.
De ascendência japonesa por parte de pai e brasileira — mais especificamente mineira — por parte de mãe, Aihara ingressou brevemente na Força Aérea Brasileira, mas acabou por seguir carreira no Corpo de Bombeiros em Minas Gerais.
Segundo ele mesmo, a mudança ocorreu em razão da necessidade de oficiais precisarem mudar a cada dois anos e ele queria uma carreira que o permitisse ficar perto da futura família.
Um incidente o deu projeção. O rompimento de uma barragem da Vale em Brumadinho matou 270 pessoas, e despejou cerca de 12 milhões de metros cúbicos de rejeitos de mineração que devastou mais de 100 hectares de florestas nativas, contaminou rios e atingiu a fauna da região.
Aihara era o homem responsável por dar uma notícia de esperança, de aflição ou de alívio para familiares dos vitimados e para o público, quando dava entrevistas diárias nas primeiras semanas após o rompimento da barragem.
Àquela época, Aihara tinha apenas 25 anos e se tornou a face da atuação do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais durante as operações de resgate. Ele era descrito como um homem articulado, tranquilo e de aspecto sereno. A operação, como ele disse em entrevista ao Estadão em 2019, foi repleta de “momentos marcantes”.
A decisão de ir para a política aconteceu por volta do ano de 2021. “Sei que o mundo político é uma selva, que tem muita gente oportunista, muita arapuca montada e que uma decisão dessas (pelo menos para os meus padrões éticos) só pode ser tomada depois de muita análise”, escreveu ele, em uma publicação no Facebook em setembro daquele ano.
Foi o Facebook um dos principais veículos para a sua campanha. Em anúncios pagos por ele na plataforma, Aihara se anunciou como defensor de causas como a dos bombeiros militares, da mineração sustentável e dos públicos afetados.
“Já passou da hora de termos um representante nosso no Congresso Nacional. Meu nome é Pedro Aihara, bombeiro militar de alma e coração. Chegou a hora de termos a nossa voz, representando nossos interesses no Congresso Nacional”, disse em um anúncio publicado na plataforma.
Costumeiramente aparecia nessas publicidades trajado como representante da classe. Ele até divulgou um filtro de vídeo para que qualquer pessoa pudesse aparecer usando um capacete de bombeiro.
Sua candidatura tentou sair da polarização. “Política não foi feita para ser briga de torcida. Política deve ser a construção do diálogo”, afirmou, em outro anúncio.
Foram R$ 135 mil gastos apenas com o Facebook durante a campanha que investiu quase R$ 1,2 milhão. Maior parte dos recursos, R$ 950 mil, vieram do Patriota, que se fundiu como PTB para formar o PRD.
No Congresso Nacional o deputado novato de 31 anos possui os cargos de presidente da Comissão da Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa e é relator-parcial da Comissão de Fiscalização dos Rompimentos de Barragens e Repactuação
Estadão.