O fato ocorrido recentemente, no município de Cordilheira Alta, fez voltar à tona a discussão sobre o perigo das redes sociais quando utilizadas de forma errada.
Após criteriosa análise da Comissão Processante, médica e técnica em enfermagem do município foram inocentadas da acusação de terem recusado atendimento a uma criança. Porém, apesar da inocência comprovada no processo, as envolvidas já haviam sido condenadas em uma espécie de ‘linchamento digital’.
Quando o pai decidiu desabafar sobre o não atendimento de seu filho que supostamente havia sido picado por uma aranha, ninguém quis saber se o cidadão falava a verdade. Nas redes sociais, o ‘efeito de manada’ foi violento, e fez com que as rés não tivessem direito de resposta, quem dirá de um julgamento justo.
Só na publicação original foram mais de 400 interações (curtidas), quase 200 comentários e mais de 3 mil compartilhamentos, número superior a população total do pequeno município.
Confira alguns dos comentários maldosos feitos na publicação original.
(Os comentários a seguir estão exatamente da forma em que foram escritos na publicação do dia 11 de janeiro de 2019)
“Se fosse eu gravava e ainda dava na cara dela onde já se viu.
Bando de vadias preguiçosa tem q denuncia. Pra secretaria da saúde faze essa vadia q pra mim são vadias fica sentada em casa e n faze isso”.
“Poca voi trabalhem nao só pelo dinheiro trabalhem com o coração por que amanhã Pode ser vc que é da área da medicina precisando”.
“Porque uma pessoa como essa doutora se forma e não presta pra proficao”
“Tomara q cassem o CRM dessa vaca”.
“Deveria ter divulgado o nome da médica, trabalho na saúde pública TB existem sim agendamentos, mas existe tb o bom senso e o profissionalismo coisas que essa daí n tem e isso ficou evidente, cadê os gestores para cobrar comprometimento dos profissionais?”
“Os médicos trab no mínimo 2 horas e ganha o restante do dia deitado nas cama do posto , para passar o dia”
No final, a história não era bem assim…
A criteriosa análise esclareceu muitos pontos que foram ‘omitidos’ no vídeo:
Não fazia meia hora, como foi falado no vídeo, que a família estava na unidade básica de saúde.
A criança entrou na UBS acompanhada exclusivamente pela mãe. O pai chega cinco minutos mais tarde, 8 minutos depois começa a gravar o vídeo, e imediatamente após terminar a gravação, vai embora juntamente com sua esposa e filho.
Também não é verdade que a criança não foi atendida. Ela foi acolhida pelas servidoras, que em seguida realizaram a triagem, e o caso não foi identificado como urgência e emergência.
O médico que atendeu a criança no Hospital de Coronel Freitas também afirmou em depoimento que o caso não era de urgência e emergência e, ainda, que sequer ficou comprovada a picada de aranha
A unidade de saúde não estava vazia no momento em que o vídeo foi gravado. O fato foi provado nas câmeras de segurança internas, e confirmadas no prontuário de atendimento;
O pai da criança confessou no depoimento não ter ouvido da médica da UBS de Cordilheira Alta que a criança não seria atendida. A mãe afirmou não ter tido contato com a médica, e portanto, também confirmou não ter ouvido a negativa de atendimento.
… Elas foram inocentadas perante a lei, porém condenadas pela sociedade. E agora, quem arca com os prejuízos?